quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Uma História dos Movimentos Nacionalistas - David Vega (2023)


Lançamento (2023)

Clique na imagem para fazer o download do livro em PDF

Sinopse

O mundo pós-moderno; a resultante da falência das grandes utopias depois que o Muro de Berlim veio abaixo em 1989, seria aquele cuja História teria chegado a seu fim e o triunfo do capitalismo, a única ideologia possível, não permitiria um questionamento de seu sistema enraizado nas democracias representativas.

No entanto, o que assistimos desde a crise imobiliária de 2008 e a realidade pós-pandemia é que uma internacional dos nacionalismos emergiu inexoravelmente no globo. Apesar de não se apresentarem na sua totalidade, os movimentos de outrora resgatam alguns elementos desconexos no seio do neoliberalismo. Assim como o comunismo precisou se reinventar para sobreviver, os nacionalismos tentam, a seu modo, trazer a alternativa pelo viés da multipolaridade.

Este livro terá o registro histórico dos principais movimentos nacionalistas das décadas de 1920-30, apresentando um pouco de sua base conceitual e prerrogativas para o leitor leigo ou não, uma vez que pensava-se estarem superados depois da Segunda Guerra Mundial. Será que o pragmatismo cético político permitirá o ressurgimento das velhas ideias espiritualistas?

Apresentação

Quando estava na 5ª série do Ensino Fundamental, aos onze anos, durante meu processo de formação enquanto pessoa e do caráter, meu pai, que sempre despertou em mim uma curiosidade sem tamanho devido ao fato do mesmo ser imigrante e pertencer a uma outra cultura, contava-me suas memórias do além mar, na província de Leon (Espanha) que já abrigou a VII Legio Romana, em Asturica Augusta (atual cidade de Astorga). Além de suas histórias de quando esteve no exército durante a década de 1960, servindo na Artilharia Antiaérea em pleno regime franquista, havia também os feitos de glória de seu pai (meu abuelo) e de meus tios avós que lutaram na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Empolgado, então, comentei com o velho professor de História da escola do bairro onde cresci que meu avô lutou no bando nacionalista na guerra. Lembro até hoje do acadêmico grisalho fazer uma expressão espanto, talvez até de desprezo, e falar que apoiava a causa dos republicanos. Ainda muito jovem, eu não fazia ideia qual era a diferença de um lado e outro que esteve em conflito, e até com uma decepção aparente, do professor dizer que não concordava com o lado ao qual meu antepassado lutou bravamente, desde então, resolvi que devoraria todo tipo de material para fazer jus à memória de meu avô.

Passei a ler todo tipo de livro que conseguia nas livrarias Sebos. Tive contato com aquela brilhante coleção Renes, da História Ilustrada do Século da Violência e da Segunda Guerra Mundial, cujos fascículos eram traduzidos da coleção original; a Ballantine Books. Bem como os relatos impressionantes de pessoas que viveram as guerras, até as façanhas de espionagem, dos números da Flamboyant. Muito desse acesso às coleções que marcaram épocas serviram-me para escrever o livro “Bellum – A Guerra como Atividade Humana” lançado em 2023, onde faço um aparato das guerras desde a antiguidade. Pois bem, partindo de uma premissa semelhante, além de preservar a memória do abuelo, decidi legar ao mundo, humildemente, minhas impressões quanto às ideias que orbitavam o passado político de minha família do outro lado do Atlântico.

            Meu avô não era um militante político da Falange, ele, assim como seus cunhados que também estiveram nas frentes de Aragón (Zaragoza) e na Batalha de Teruel (1937-38), foi recrutado pelo serviço militar obrigatório e enviado ao front (sendo ferido com metralha em combate). Naquele período de incansável investigação literária e filosófica, onde tive acesso aos diferentes espectros que estavam em conflito da guerra civil mais sangrenta da História, realmente pude elaborar meu senso crítico, bem como li (ou ouvi) pela primeira vez o que seria o carlismo, fascismo, comunismo, nacional-socialismo, anarco-sindicalismo e tantos “ismos” - a cada página virada, mais parecia que a vastidão desse terreno fecundo de ideologias não tinha fim.

            Não apenas me contentava em aprender sobre os movimentos, bem como quis viver as ideologias ao chegar na adolescência, por volta dos dezesseis anos, quando integrei um grupo de skinheads da cidade de São Paulo. De fato, foi um passo para a criminalidade, entretanto cresci muito intelectualmente também, pois aqueles garotos que faziam parte da cultura dos Carecas, apresentaram-me a um mundo inexplorado pela academia convencional. Tive acesso aos exemplares da extinta Editora Revisão, que independente de cairmos na discussão sobre a validade científica de seu conteúdo, mostrou-me uma indignação, era como se eu fosse um dos poucos no mundo a saber da “verdade” oculta pelos conglomerados midiáticos e as instituições que julgava “sionistas”.

Bem, é verdade que a maturidade intelectual com o tempo vem, e mesmo que honre ainda o legado de meu avô veterano, sei que é possível estar no campo democrático e estudar o assunto para uma área do conhecimento que vale a pena ser desmembrada, até mesmo no intento de se evitar erros do passado, este, muitas vezes idealizado por jovens radicais.

Hoje, já graduado em Sociologia, dedico este documento às ideologias e movimentos nacionalistas diversos que julguei serem os mais relevantes, de tendências político-espiritualistas, para um entendimento definitivo a um público dissidente e também leigo sobre as aspirações da chamada Terceira Posição. No início dos anos 2000, devido à chegada da internet, um salto intelectual se deu em minha bagagem cultural e informativa de tais agremiações, lembro-me dos blogs do portal argentino Libreopinión, onde nacionalistas de todo o mundo podiam publicar seus textos. Também o site Mídia Sem Máscara, local modesto que o pessoal tinha a oportunidade de interagir, até a chegada das primeiras redes sociais, tal qual o extinto Orkut, lá, através de comunidades de afinidades a galera fazia contato.

Por meio do digital, outros grupos surgiram; os Nacional-Revolucionários, ou uma fusão da esquerda com os nacionalistas no leste da Europa, dando origem ao Nacional-Bolchevismo, de Eduard Limonov, que inspirou a Quarta Teoria Política de Alexandr Dugin, hoje, a base dos ideais da Nova Resistência - o grupo nacionalista de maior expressão no Brasil atual.

Os marxistas definem o nacionalismo como subproduto do capitalismo e expansionista, sendo a base do imperialismo. Depois do Ancien Régime, criou-se a padronização dos mercados. O verdadeiro marxismo é internacionalista, mas a ideia de “revolução em um só país” de Stálin, trouxe o chamado nacionalismo de esquerda. Marx defendeu a causa dos irlandeses, apesar de concentrar-se apenas no estudo das forças produtivas e econômicas da sociedade, negando outros aspectos antropológicos fundamentais ou até biológicos.

O nacionalismo seria uma “história singular partilhada”, ou nas palavras de Benedict Anderson, uma comunidade imaginada. Podendo este ser étnico ou cívico. Países multirraciais como o Brasil, até por não partilharem do direito de nacionalidade pelo jus sanguinis (direito de sangue), definem o seu gentílico pelo fato de nascermos em seu solo. É o patriotismo cívico, e não o etnossimbolismo racialista que sustenta o nacionalismo brasileiro, diferente das nações onde as questões étnicas estão imbricadas com a cultura.

Além dos capítulos destinados aos movimentos, este livro tem uma conclusão situando as ideologias na atualidade e os desafios para o futuro em uma contemporaneidade onde o neoliberalismo se fez triunfante. Não saberia dizer se chegamos realmente ao “Fim da História”, defendido por Francis Fukuyama. A reinvenção do patriotismo, que traz o conceito de Dasein de Heidegger para um mundo multipolar situa-se em uma espécie de internacional dos nacionalismos, enfrentando uma pós-modernidade cada vez mais avessa à tradição, assombrada pelos erros do “nazifascismo” no passado (principalmente o holocausto retratado incansavelmente no Cinema hollywoodiano), o que dificulta uma legitimação de tais prerrogativas.

                Reuni não só as informações sobre cada vertente, mas também tento trazer a base ideológica dos movimentos e seus pensadores, os personagens expostos são políticos e ideólogos poucos convencionais aos olhos da sociologia ou da ciência política institucionalizada, devido à sua marginalização por uma academia que tenta negar o acesso às doutrinas consideradas “indesejáveis”, portanto, esta obra não é uma mera “homenagem” a estas figuras, pretende apenas apresentar um campo filosófico pouco difundido ao estudante das Humanas.

Aqui não faço uma apologia à apologética das práxis dos grupos, é a tentativa de trazer à discussão um universo que embora tentem negar que exista, pelos preconceitos de uma elite política e intelectual que relega ao ostracismo a oposição que deve ser varrida ao esquecimento, ela sobreviveu (pelo menos alguns elementos isolados) à ação do tempo, e assim como o comunismo, também alterou-se, reinventando-se na pós-modernidade. É preciso quebrar tabus que só fazem um desserviço à investigação honesta do conhecimento, principalmente ao tratarmos dos “fascismos”; termo este que tornou-se sinônimo de chauvinismo, autoritarismo e ditadura. Há uma falsa premissa da esquerda tradicional em alegar que a reação é apenas reacionária à revolução e avessa às mudanças e não possui profundidade intelectual, como se a erudição fosse exclusivamente de um espectro político apenas. Tento desmistificar esta falsa noção prepotente neste documento, uma vez que existiram os grandes teóricos nacionalistas e devem ter uma devida atenção, pois idealizaram e reproduziram visões de mundo tão complexas quanto as das teorias críticas diversas, feito os frankfurtianos. O filosofar e a cosmovisão de uma sociedade “melhor” e mais “justa” ou o senso crítico, não são exclusivos de um espectro apenas. Diria ainda mais, é justamente no mundo pós fim da URSS que uma centro-esquerda, através da social democracia, aliada ao capitalismo liberal, passou a ser o status quo, a situação, e uma “direita” nacional-revolucionária apresenta-se como oposição contestadora do establishment.

O nacionalismo hoje tem uma caricaturização do fascista reacionário e ignorante. No entanto aqui pretendo trazer os principais ideólogos e filósofos de sua práxis. O que não quer dizer que não tenha se sustentado em autarquias e violência; lembremos que Matteotti foi assassinado, Gramsci encarcerado e tantos outros perseguidos. Porém devemos reconhecer se formos intelectualmente honestos, que a esquerda perseguiu e persegue ainda opositores em países totalitários que anularam o conceito de democracia, mesmo que utilizem esse termo para definir as suas repúblicas populistas.

Umberto Eco reconhece uma certa intelectualidade fascista, no entanto aponta que seu radicalismo e crítica à revolução liberal, contra os ideais principalmente da Revolução Francesa, reduz um discurso apodítico e axiomático em que não aceita oposição, pois esta estaria composta de “traidores”. Mas os revolucionários de outras tendências partem do mesmo pressuposto, julgando os tradicionalistas contrarrevolucionários um empecilho à transformação de mundo que pretendem realizar, por isso, devem ser eliminados (moral, intelectual ou fisicamente).

Erram também, de certa forma, os liberal-conservadores ao tentarem jogar os fascismos diversos na conta da esquerda, como se fossem irmãos heterozigotos do comunismo. Pode-se ter uma leitura de “convergência” entre ambas devido ao corporativismo de Estado e a chamada “democracia orgânica”, que difere da liberal. No entanto, devemos ter honestidade intelectual em reconhecer que não se pode comparar “animais” distintos.

Escrevo esta apresentação justamente no dia da celebração da Revolução dos Cravos, evento que é um divisor de águas de um passado que parece cada vez mais ser esquecido pela mídia e as novas gerações que não viveram o período. Colocando todos estes “ismos” em seus devidos lugares, aqui faço uma história dos movimentos nacionalistas para de uma vez por todas esclarecer suas aspirações em um mundo cético e pragmático do realpolitik onde parece não haver mais lugar às ideologias e utopias. 

 

O autor, 25 de abril, 2023.


segunda-feira, 6 de março de 2023

As Aventuras de Donoso Bueno (Trilogia) - David Vega

Quando era criança, no início dos anos 1990, um tio por parte materna mostrou-me sua coleção de fitas VHS. Ele era um amante das grandes aventuras, tinha algumas HQs de heróis um tanto inusitados; o Zorro de capa e espada, o Ranger Solitário, O Fantasma e muitos que envolviam aventuras em locais exóticos do planeta.

Na mesma época, meu padrinho e vizinho lá na rua onde cresci, certa vez trouxe da locadora a fita dos Caçadores da Arca Perdida e assistimos eletrizados ao filme que já era um clássico até então (lançado em 1981). A partir daí, tornei-me fã do personagem Indiana Jones, este, que foi criado para homenagear os filmes das matinês que o meu tio assistia na sua juventude, George Lucas e Steven Spielberg fundiram na antiga trilogia (hoje são 5 filmes) os heróis de filmes como “O Segredo dos Incas” com Charlton Heston, “O Horizonte Perdido”, “Gunga Din”, “O Tesouro de Sierra Madre” e tantos outros que fizeram a infância alimentando a imaginação da geração que cresceu nos anos 1950 e 1960.

Eu mesmo andava para cima e para baixo com um chapéu e um chicote, sonhando em viver histórias fantásticas e ser um arqueólogo. Desde cedo, tinha uma propensão à literatura, li grandes épicos como “As Minas do Rei Salomão”, “A Ilha do Tesouro” e as histórias de Júlio Verne, bem como a grande coleção Vagalume, sobretudo os títulos de Francisco Marins. Aos 10 anos de idade eu escrevi meu primeiro livro, “O Vale do Ingaí”, contava a jornada de um grupo de garotos (baseado na minha turma de amigos lá do bairro ainda descampado e de estrada de terra em que morava) que partiam em busca do tesouro escondido por um escravo em um vale perdido na selva.

Bem, entre 2018 e 2022, resolvi, já com a escrita madura e adentrado à idade adulta, escrever uma série de aventuras inspirado nesse passado alimentado pelas grandes façanhas do Cinema. Pensei que deveríamos ter um herói genuinamente brasileiro, assim, criei Donoso Bueno, um caboclo, descendente de bandeirantes e pioneiros. Ele próprio é um amálgama de todos esses heróis da literatura, no Dobrão do Velho Amâncio, eu reescrevi aquela história de quando era criança com o olhar da experiência e técnica da escrita tendo já publicado contos e ensaios ao longo de duas décadas. O primeiro número chegou a ser publicado nos Estados Unidos pela editora Underline Publishing. Logo após, resolvi fazer mais duas continuações, criando eu próprio uma trilogia lúdica, que mais parece estar assistindo a um filme de aventuras ao folhear suas páginas.

Os livros foram lançados independentes através de meu próprio selo “Celtiberos Edições”. Ceguei a imprimir uma tiragem, mas aqui deixo os títulos para download, assim tornando-os acessíveis a todos os amantes das grandes histórias.

Para download dos livros, é só clicar na imagem das capas:

1 - O Dobrão do Velho Amâncio


Sinopse da capa:

O que faz um jovem parnaibano cujas origens remontam os tempos do bandeirismo, imerso na Revolução Tenentista de 1924? O que leva homens distintos a uma corrida por um ouro perdido no quilombo do Cururuquara? – Local engolido pela selva densa que somente poucos conseguiram chegar, mas nunca ninguém voltou para contar. Essas e outras compõem o cenário criado pelo autor David Vega, cuja infância se deu nas montanhas verdes do planalto envolto à cidade de São Paulo de Piratininga, nas terras de Suzanna Dias e do Anhanguera, levando o leitor a uma aventura que revive as novelas clássicas de caça ao tesouro e piratas, onde este último pode ser substituído por capangas e fantasmas de bandeirantes.

O dobrão que tem o escudo do império faz o personagem, pela ótica do leitor, munido de uma pele de bode com um mapa desenhado, percorrer lugares reais e vivenciar episódios verídicos da História, com personagens que realmente existiram, deixando nesta obra a intersecção do entretenimento e do estudo do passado, escrita por um sociólogo de formação, mas antes de tudo, amante das grandes aventuras.

Entre nesta jornada emocionante e viva a cada parágrafo os perigos, traições e obstáculos que todo líder supera, na pele de Donoso Bueno, um jovem mameluco, filho de nossa terra, um herói nacional, que insere o Brasil no campo mundial das histórias fantásticas.

A leitura da série de aventuras de Donoso Bueno é como assistir aos filmes das antigas matinês que inspiraram os jovens de várias gerações. Esta é uma homenagem às incríveis façanhas da literatura e do cinema.

Orelha:

Enquanto escrevia este romance, uma pergunta me assombrava: “Ainda existem livros de aventura?” – o estilo em questão, quase extinto da literatura mundial, deu lugar aos ensaios jornalísticos, políticos e de autoajuda que levam pouco mais de um parágrafo sucinto para descrever friamente algum acontecimento.

Hoje parece cada vez mais difícil construir algo que fuja dos fragmentos, uma história com progressão, desdobramentos, desfecho e um enredo que faça sentido a cada elemento apresentado durante a epopeia.

Os locais e eventos mencionados nesta obra são reais, misturando, em sua modelagem, a ficção e os fatos históricos de alguém que transita entre ambas; a imaginação fértil de um jovem que mesmo atado ao mundo concreto, vê personagens em cada brecha que a vida apresenta. A realidade é mais inverossímil que a ficção!

Sendo assim, resolvi criar um herói (ou anti-herói em alguns dos casos) que atravessa os tempos com a sede pelo oculto, a trajetória que envolve bandidos, tesouros e belas guerreiras, compondo o cenário ideal de um tempo passado não tão distante.

Aprender História através metáfora faz o processo investigativo muito mais lúdico. Acompanhe esta aventura iniciada desde as entranhas do Império Brasileiro e a escravidão à Revolução de 1924 e os levantes tenentistas; com traições, combates e muita emoção, resgatando as grandes façanhas que marcaram gerações.

O primeiro número da trilogia também será lançado nos Estados Unidos, pela editora Underline Publishing, e comercializado no Canadá e Europa. Aqui no Brasil, os três serão publicados através do meu selo editorial pessoal Celtiberos Edições.

2 - Donoso Bueno e a Dama de Elche


Sinopse da capa:

O que faz Donoso Bueno em plena Espanha durante a Guerra Civil de 1936? Após partir para a península em busca de sua esposa Sônia, engajada em uma milícia de mulheres anarquistas, o nosso herói caboclo se vê em uma corrida contra os fascistas para desvendar o mistério da Dama de Elche; um busto encontrado em 1897 e jamais decifrado. Trata-se da segunda aventura da série do personagem protagonista apresentado aos leitores no “Dobrão do Velho Amâncio”, ambientada onze anos depois do primeiro livro. As viagens fantásticas de Donoso Bueno podem ser incluídas nas grandes façanhas que misturam a ficção com eventos históricos – uma maneira lúdica de apender sobre o passado, através do entretenimento. Há muito tempo não se via um livro nos moldes de uma Odisseia como este em suas mãos.

A leitura da série de aventuras de Donoso Bueno é como assistir aos filmes das antigas matinês que inspiraram os jovens de várias gerações. Esta é uma homenagem às incríveis façanhas da literatura e do cinema.

Orelha:

Depois de apresentar aos leitores o mais novo herói brasileiro em “O Dobrão do Velho Amâncio”, Donoso Bueno, filho de duas pátrias, como seu criador, pensei que a aventura pelos interiores do Brasil poderia ter uma continuação com um enredo parecido, mas desta vez no velho mundo. A Espanha durante a guerra civil cativou-me. O livro é uma homenagem aos idealistas que deixaram o conforto de casa para lutar por seus ideais na revolução mais apaixonante da História.

Como é de praxe, Donoso e seus amigos partem rumo ao desconhecido nesta jornada que também envolve o sobrenatural. A misteriosa Dama de Elche até hoje causa curiosidade à arqueologia mundial; um busto encontrado em Alicante no final do século XIX que tinha um orifício para se guardar algum objeto, do qual até hoje os cientistas não sabem qual.

Não são apenas nossos amigos os interessados. Perigosos nazistas procuram um reino místico dos iberos que poderia lhes dar poderes para dominar o mundo. Somente o grupo de exploradores brasileiros poderá detê-los!

Acompanhe esta segunda aventura de nosso herói, onde mantenho meu estilo de escrita, fazendo você aprender História com o texto romanceado da ficção.

3 - Donoso Bueno e o Segredo dos Caraíbas


Sinopse da capa:

O que faz Donoso Bueno em plena cidade maravilhosa, abençoada pelo Cristo Redentor de braços abertos, durante a década de 1950? O diário do explorador austríaco conhecido como “Chovenágua” está em disputa pelo nosso herói e perigosos espiões soviéticos da KGB, nele, os passos para desvendar o segredo dos Caraíbas, quem resolver o mistério talvez controle o passado, mas será que o futuro também? Acompanhe nosso herói na aventura que encerra a trilogia de livros que começou com “O Dobrão do Velho Amâncio”, revivendo alguns personagens da primeira trama, e novos aventureiros como Zinho, o filho de Donoso! Veja como o destemido veterano de revoluções se sai como pai, cauteloso, diante dos perigos para proteger a sua família. Seguindo a tradição da série, aprenda História de uma forma lúdica e adentre ao universo da fantasia que constrói nossa imaginação, nos colocando na posição de protagonista junto com quem a escreve.

A leitura da série de aventuras de Donoso Bueno é como assistir aos filmes das antigas matinês que inspiraram os jovens de várias gerações. Esta é uma homenagem às incríveis façanhas da literatura e do cinema.

Orelha:

Este é o último livro, fechando a trilogia de aventuras do novo herói brasileiro Donoso Bueno. Após receber um telegrama oficial do serviço secreto do governo, o ex-combatente do levante tenentista é enviado ao Rio de Janeiro da década de 1950 em busca do diário de um explorador austríaco que em terras nacionais procurava desvendar o mistério dos anagramas da Pedra da Gávea, segundo ele, poderiam ser fenícios. Refazendo os passos do famoso Coronel Fawcett, acompanhado do velho marujo Boaventura, seu fiel amigo, e seu filho, Zinho, Donoso vive os maiores perigos no coração da floresta amazônica para tentar chegar ao mar do Caribe e desvendar um segredo que os guerreiros caraíbas guardam por milênios. Fiel ao estilo dos demais livros da série, a história mescla eventos reais com a ficção, uma forma lúdica de se aprender sobre o passado, e em específico neste episódio, um pouco de distopia futurista também, relembrando as grandes façanhas da literatura e do cinema de ficção científica. O livro é independente dos anteriores, embora faça menção às aventuras prévias, é uma sequência que não exige a leitura dos outros, mas recomendo que o leitor adentre ao universo de Donoso Bueno, que começou com o célebre “O Dobrão do Velho Amâncio”, para compreender sobre as entranhas de nossa cultura.


terça-feira, 28 de fevereiro de 2023

Bellum - A Guerra como Atividade Humana


Lançamento do meu livro (2023) - Bellum - A Guerra como Atividade Humana (David Vega) - Clique na imagem para fazer o download em PDF


Apresentação

Quando tinha por volta dos nove ou dez anos, como toda criança de sítio, cresci subindo em árvores no quintal de casa, em um município nos arredores da grande São Paulo. As minhas brincadeiras junto de meus camaradas envolviam pendurar balanços improvisados, amarrar cordas com nós para subirmos até o topo; fazíamos também pontes e atravessávamos entre as árvores. Rastejar-se pela lama era quase que frequente. Parecia um treinamento de escotismo. Por vezes caíamos e com um braço luxado e arranhões na época do mertiolate que ardia, meu pai esbravejava de preocupação (e com razão), mas vinda a calmaria depois, ao ver as nossas façanhas, ele comentava com mamãe – “acho que o David quando crescer seguirá a carreira militar”. Muito devido às nossas brincadeiras no sítio e a disciplina que recebi de meu pai, eu incorporei aquela ideia, e passei a ter interesse em tudo que orbitava o mundo bélico.

Meu pai, certo dia, mostrou-me suas fotos de quando serviu na artilharia antiaérea do exército espanhol ainda nos anos 1960, em pleno regime franquista, pouco antes de emigrar para o Brasil. Todos os dias eu abria aquele álbum e ficava vendo cada detalhe das fotos. A rojigualda com o escudo da águila de San Juan no dia do juramento à bandeira, o regimento posando para a câmera e as fotos de meu velho com seus companheiros descontraídos nos beliches com garrafas de vinhos e cartas de baralho espalhadas em meio de apostas e fuzis, lembro das histórias de sua época de quartel.

 Dentre elas, me vem à memória aquela de 1969, quando viajando em um trem, creio eu que em Astorga (Leon) eles acompanharam pelo rádio Neil Armstrong dando seus primeiros passos na lua, ou da vez em que um dia de frio intenso, durante uma guarda, acharam um estábulo e foram dormir com as vacas para se aquecerem, tomando orujo (aguardente de uva) nos cantis. Também a do jovem que tentou salvar um capitão em um dia de treinamento básico, quando caiu uma granada por acidente próximo do oficial, e ele pegou o explosivo para lança-lo longe de lá - o mesmo explodiu enquanto o carregava, causando a sua morte; papai disse que a família do recruta recebeu uma medalha por parte do governo. Ah! Talvez a mais emocionante é de quando faziam exercícios de artilharia com canhões teleguiados ainda da Segunda Guerra Mundial e quase abateram um avião comercial, receberam um esporro do oficial encarregado. Contou-me que seu regimento tinha um oficial que portava a cruz de ferro, fora um voluntário da Divisão Azul na frente russa.

A mais assustadora é de quando tiveram que ficar de prontidão devido uma ordem que veio do alto comando, quando tensões ocorreram no Mediterrâneo, em uma suposta ordem do próprio caudilho generalíssimo Franco na tentativa de recuperar Gibraltar das mãos dos ingleses, hoje seu território ultramarino (Franco sempre quis recuperar o estreito e o rochedo estratégico militarmente que a Espanha perdeu para a Inglaterra em 1713 com o Tratado de Utrecht) – os soldados ficaram armados em alerta no quartel esperando uma possível atuação, mas depois nada aconteceu, e até a morte do caudilho, ficou sendo apenas uma sombra distante a causa de Gibraltar, um nacionalismo espanhol parecido com o caso das Malvinas aos argentinos. Meu pai chegou à patente de cabo, e desempenhou função de sargento.  

Naqueles tempos, o exército, assim como a escola, eram os garantidores da introdução da cidadania ao indivíduo. Para um garoto nascido em um pequeno pueblo (aldeia) que não conhecia nada além de sua vizinhança, o serviço militar era uma oportunidade para conhecer além daquela realidade. Um irmão de meu pai serviu no norte da África, no Saara Ocidental e foi uma experiência exótica. Certa vez me disse que lá era preciso ficar atento, pois os mouros guerrilheiros costumavam degolar os sentinelas para roubarem os fuzis. O calor do deserto era tamanho, chegando a ferver a água do cantil.

Na medida em que fui crescendo, alimentado por estas histórias, passei a me sentir pertencente a tudo isso. Tais feitos viriam a engrandecer o coração e se intensificar em mim depois que descobri outro evento grandioso em que um familiar havia participado. Meu avô, na Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Entrei em contato com um primo no além mar e o mesmo enviou uma foto digitalizada amarelada, quase que desbotada, de meu abuelo em 1936, pouco antes de partir para o front. Outra vez fui alimentado pelos relatos de papai, que narrou-me o que havia ouvido de seu próprio pai e tios, enviados para lutar no exército nacionalista contra as Brigadas Internacionais na revolução que antecedeu o segundo conflito mundial. Abuelo lutou na frente de Zaragoza, em Aragón, também na batalha de Teruel, de 1937, no inverno rigoroso, quando os republicanos retomaram a cidade e os sublevados após recuarem fizeram outra investida, dividindo a zona legalista em duas. Meu avô veterano contava sobre seus amigos que amanheciam congelados na trincheira, da vez em que repartiu um pão, isolado em uma gruta e foi a única refeição que tiveram por dias enquanto entocados esperavam passar uma nevasca. Foi ferido com metralha na perna e morreu de gangrena em 1984 (quatro anos antes de eu nascer).

Outros tios avós meus também foram veteranos, dois deles conheci quando estive na minha terra de origem; o tio Daniel, que tinha uma cicatriz de tiro no braço “metralla de los rojos” (metralha dos vermelhos) disse-me quando contava de sua participação na guerra, e o tio Diamantino, padrinho de meu pai, que estava em um asilo com mais de noventa anos. Quando adentrei a seu recinto, ao lado de sua cama na casa de repouso, na cômoda, estava repleto de livros de guerra, todos com passagens grifadas e ele entusiasmado me contava de suas façanhas na revolução, bem como sobre os livros que estava lendo, particularmente ele gostava das campanhas do Dia D. Leon, a província de onde vem minha família, no passado foi a Legio VII Gemina romana, além de ter tido influência visigótica, povos que definem muito a qualidade combativa de seus filhos guerreiros.

Por parte da família de minha mãe, meu avô, que foi um mascate durante o regime militar brasileiro, disse-me uma vez algo que nunca esqueci quando estive em seu casebre humilde: “um dia você vestirá a farda de um soldado, meu filho”. Nunca tive a oportunidade de conhece-lo tão bem, mas sei que ele admirava os revolucionários paulistas de 1932. Minha avó tinha recordações das queimadas de roças de café ordenadas por Vargas para ajustar o preço, e eram críticos ao “pai dos pobres” (como boa parte dos paulistas derrotados na revolução). Além do fato de meus primos do interior de São Paulo serem boa parte deles da Polícia Militar.

Na pré-adolescência, contagiado por um passado militar grandioso de minha família, eu passei a devorar todo livro que achava sobre o tema quando passava horas nas livrarias Sebo da minha cidade, principalmente os números da Bilbliex – A Biblioteca do Exército Editora. Colecionava miniaturas de aviões, tanques, soldadinhos de chumbo e os artigos históricos de Militaria; medalhas e peças diversas. Decidido que um dia me tornaria um soldado. Bem, infelizmente não foi tão fácil. Quando fiz dezoito anos fui voluntário no CPOR de São Paulo e passei nos testes físico e intelectual. Estava tudo decidido e certo para eu incorporar à corporação. Escolhi a infantaria, dentre as quatro armas, e chegaram até a tirar as minhas medidas para a tão sonhada farda. Estive por três dias no quartel. Aprendi a marchar, cheguei a passar pelo trote dos recrutas mais antigos e estava feliz como em um sonho realizado. O toque de clarim enchia o peito! Até os gritos do sargento eu encarava como se estivesse no filme “Full Metal Jacket” (Nascido para Matar) de Stanley Kubrick e idealizando a atividade bélica, eu já era um soldado (talvez tenha sido um desde que nasci!).

Porém, quis Deus que não fosse nessa vida. Devido ao sucateamento e a falta de verbas, eu e mais uma porção de garotos fomos suspensos por excesso de contingência. Lembro até hoje de quando bateram o carimbo no meu CAM. Dispensado e frustrado, foi a primeira grande decepção da minha vida. Tenho pesadelos desse dia até hoje. Tentei algumas vezes ingressar novamente. Fiz um concurso para a Academia das Agulhas Negras, mas não fui aprovado, e na medida que os anos passavam, mais se distanciava a possibilidade de tornar-me um militar. Hoje, já ultrapassando os trinta anos, seria inviável, pois a idade limite para os concursos é de vinte e seis anos. Poderia conseguir como militar temporário, espécie de alferes, no entanto as outras prioridades da vida, de um homem casado que planeja ter uma família, me levaram a outro caminho. Sonhei em entrar na Legião Estrangeira também e quando começou a guerra da Ucrânia, por vezes fiquei tentado em largar tudo e ir até o leste europeu me voluntariar. O coração militarista ainda pulsa com ardor e hoje entendo que o guerreiro não é apenas o que veste o uniforme. Existe o filósofo guerreiro, aquele que ao invés do fuzil, porta uma pena, e seu combate se dá com as palavras. Todos devemos ter um mínimo de filósofo, guerreiro e sacerdote em nós!

Outras habilidades aprendi na vida, sobretudo devido à convivência com os tipos mais estranhos. Aprendi a trapacear, bem como a ler as pessoas, seguindo sempre uma intuição, nunca rejeitei os sentidos. Pelo contrário, estimulei o lado sensorial ao ponto de não acreditar no discurso de outrem quando se mostra falso, mas naquilo que meus olhos podiam captar - a forma de se portar, as expressões faciais e interjeições na fala. Penso que se fosse um investigador de polícia também pudesse me dar bem. A realidade das ruas obrigou-me a sobreviver como um australopithecus na savana, e resgatando as habilidades de um caçador coletor, passado um breve período em que estive metido em gangues e atividades ilícitas, voltei-me para a averiguação dentro do processo intelectual.

O verdadeiro guerreiro não consegue deixar de o ser! Se a mim foi negada a permissão de estar nos quartéis, eu formei minhas próprias unidades combativas, com punks e skinheads munidos de armas brancas que tinham a prática do cavaleiro andante. Nos considerávamos, aquele bando de desocupados, uma formação paramilitar, forças auxiliares, paisanos que a qualquer momento que fosse dada a ordem estaríamos de prontidão. Eu ia para a escola de calça camuflada e coturnos. Foi um passo para o crime! A vida de bicho solto e de brigão encurta a dos garotos, e por sorte, ou intervenção divina, não acabei em uma prisão, embora tenha passado por reformatórios na adolescência.

 A luz da maturidade recaiu sobre mim após um tempo de turbulência. É verdade que nunca abandonei a atividade bélica, que hoje eu traduzo em páginas e mais páginas nas noites em claro em que não consigo parar de escrever. Sem dúvidas é muito mais seguro estar em casa vomitando conceitos em um papel do que na rua procurando confusão. Porém, espera lá! Não me tornei um “guerreiro” de gabinete! Ainda vago com minhas botas na solidão da cidade grande, idealizando combates e grandes façanhas, influenciado pelas tantas leituras de um passado que mesmo idealizado, me faz preferir a companhia dos que já foram do que os vivos em suas vidas corriqueiras medíocres que me rodeiam. Alguns podem dizer que isto é ainda em mim muito daquele garoto que vivia em cima das árvores e improvisava lanças com gravetos. Pode até ser, pois o ardor do guerreiro não acaba só por este na vida adulta ter que pagar um boleto atrasado e o aluguel no fim do mês, afinal, qual o papel do combatente na sociedade da “paz” artificial?

Miguel de Unamuno teria escrito certa vez: “Uns quantos sábios, verdadeiros sábios, mestres de verdade, guardam mais a pátria do que alguns batalhões”.

Entendo o fato dos veteranos não conseguirem muitos deles voltarem à vida em sociedade... O desejo da aventura, do perigo (até o de matar) e da majestade que envolve a guerra, cruel e sedutora, faz desta uma arte como outra qualquer. Por mais que Remarque tenha alertado no seu romance pacifista “Nada de Novo no Front” que a guerra não é uma aventura para queles que enfrentam a morte, pelo menos, com a segurança e a calmaria do seio do lar, eu escrevo sobre essa atividade intrínseca à natureza humana, sem viés politicamente correto ou ideologia hippie daqueles que cantam “Imagine” de John Lennon frente ao caos. Pois a destruição e a ruína podem ter a sua beleza – não é por acaso que os romanos chamavam de “Bellum” a guerra, termo que com o tempo passou a exprimir a beleza também – O Belo.

O combate acaba por produzir normas primordiais à vida em sociedade. Um exemplo seria o código de cavalheiros (e de cavaleiros). A admiração e o respeito inclusive ao oponente, algo semelhante quando faziam funerais de honra ao inimigo abatido, quando este se mostrava destemido. O senhor da guerra reconhece a bravura do guerreiro seja este em qual barricada estiver. Igual quando depois de ser abatido no solo, o ás Barão Vermelho teve um ritual fúnebre com honras militares pelos seus inimigos. Algo de semelhante ocorre no esporte, se respeita o oponente, também treinado, e se este tiver o mesmo código de honra, o combate por si só já é o maior motivo, deixando de lado qualquer ideologia em questão em disputa, pois o herói sabe reconhecer os feitos do adversário. Combater e competir são as maiores razões, acima até da vitória ou derrota – a luta permanente!

A maioria das nações parece ter uma foça armada, salvo raras exceções, como a Costa Rica, desmilitarizada. San José é a sede de várias organizações internacionais dos Direitos Humanos. Impondo a restrição aos países de formarem seus exércitos, a História provou que pode ser um barril de pólvora, lembremos o que o Tratado de Versalhes que limitou a Alemanha ter um exército não podendo passar de 100 mil homens, gerou (o nazismo). As milícias nos tempos de crise, seja na República de Weimar ou nos protestos da Wall Street atuais, as primaveras no mundo todo e revoluções coloridas, provam que o desejo de se organizar em estruturas de comando combativas é inerente às sociedades humanas.

No Brasil a cidadania em boa parte da História veio das fardas. Nossa proclamação da República e os presidentes iniciais, Deodoro e Floriano Peixoto, produziram uma imbricação da caserna com a política. Até hoje temos o conceito do soldado-cidadão, enquanto nos Estados Unidos é o cidadão-soldado, o que explica a formação de milícias estaduais com civis armados. Na Rússia, herdando a prática da ex-URSS, as crianças aprendem a montar e desmontar e manusear um fuzil AK 47 na escola. Nações belicosas entendem a importância de se prepararem para qualquer tipo de invasão, pois historicamente sofreram diversas intervenções e sua importância econômica no mundo como potência exige que estejam de prontidão.

Este livro não é uma defesa da guerra ou da violência. Que fique bem claro isto! É apenas uma análise madura de uma atividade tão humana, assim como a caça e o sacrifício, que os adeptos do bom selvagem de Rousseau fizeram o desfavor de não reconhecer, impossibilitando um estudo e olhar mais preciso de algo inerente a nós. É um documento muito breve, pois abrange um grande período, impossível retratar por completo tão extensa gama de acontecimentos. Aqui uso a bibliografia de outros que fizeram grandes trabalhos sobre o tema, como o historiador John Keegan e os livros dos quais cresci lendo e que entraram para meu repertório e na formação de meu caráter.

O conhecimento é livre, uma vez público, nos serve para dar sustentação à argumentação em cima das constatações e informações feitas por outrem. Assim como na mitologia, ele é um labirinto, então tenham em mente que este memorando escrevi citando os livros que julguei relevantes, nele, há citações dos autores, das quais procurei mencionar propriamente as fontes, a página e o ano das edições, imbricadas com comentários meus. Não foi um roubo plagiado, mas sim faço uma colcha de retalhos, filtrando as informações que achei importantes para organizá-las a você leitor. O livro não pretende ser um trabalho acadêmico nos moldes oficiais que exige a academia, é mais um ensaio para servir de sustentação às mais variadas pesquisas.

Se a política é a continuação da guerra por outros meios, assim disse Clausewitz, eu acrescento que outros campos levam o mesmo princípio, como o comércio, a relação entre Estados no Direito Internacional, até mesmo a competição entre irmãos ou de um casal na criação dos filhos. Ela não se resume apenas ao jogo político, em muitas sociedades a guerra é a própria cultura, expressão da agressividade humana na cosmovisão de povos voltados à conquista.

Todas relações humanas reproduzem a lógica amigo-inimigo de Schmitt, até a cooperação, pois o altruísmo não ocorre da mesma forma quando não há a proximidade pelo afeto, afinidade ou relações de sangue. O espírito espartano não precisa se contrapor ao de Atenas, a democracia é garantida pela força das armas. O conflito é o que marca a História humana. “Faça amor, mas também a guerra!” (complementando e contrariando os hippies). A honra ao mérito propicia o melhoramento dos indivíduos nas sociedades que premiam os melhores, a igualdade na isonomia das leis não deve se contrapor ao talento pessoal, e o esporte cumpre esse papel uma vez que a guerra tenta ser evitada.

É preciso de fato um pouco mais de realismo entre nossos jovens, a compreensão de um realpolitik que lhes será cobrado na sociedade competitiva da vida adulta. Todas estas, procuro retratar nas seguintes páginas, são ensaios que não tratam apenas da parte conceitual e filosófica, bem como faço um registro histórico de campanhas desde a antiguidade até os dias atuais – uma coletânea de artigos cronologicamente abordando as guerras mais relevantes a meu ver. Só entendendo a lógica do conflito poderemos de fato promover uma paz mais verdadeira, e não esta hipócrita que nos é vendida pela escola e pela mídia, aliás, quanto à real paz, se queres alcançá-la, prepare-se para a guerra! – Si vis pacem para bellum!

 

O autor, 17 de novembro, 2022

Sinopse:

É possível dissociar a História humana da prática da guerra? Desde a antiguidade os processos de assimilação e aculturação se deram de forma violenta. Vencedores impõem seu modus vivendi e cosmovisão e vencidos, submetidos ou não, passam a integrar os impérios triunfantes contribuindo também com a sua cultura, resultando em nações novas.

Os povos sempre tiveram contato. A invenção da agricultura propiciou a noção de território e com isso, trouxe a prática da conquista da terra, fazendo surgir os exércitos organizados e permanentes. Poucos são os agrupamentos humanos do qual a atividade bélica era desconhecida. Por muito tempo, antropólogos embebidos de ideais pacifistas, inspirados em Rousseau, tentaram retratar a natureza humana ligada a uma bondade inerente. Mas o que podemos constatar analisando o processo evolutivo é que se tem algo que define a espécie humana seja em qual rincão do mundo ela ocupe, é a guerra.

No presente livro faço um aparato das principais guerras, da antiguidade até os dias atuais. São resumos comentados pelo viés sociológico e histórico; sucintos, escolhidos a dedo, onde lá está “tudo o que você precisa saber” sobre os conflitos; batalhas, datas, atores em questão, a filosofia guerreira, ideologias, armamentos, estratégias militares e táticas no teatro de operação ou na retaguarda, sendo a política também uma extensão da guerra por outros meios.


Meu avô (abuelo) Blas Vega, foto de 1936, aos 21 anos, durante a Guerra Civil Espanhola. Serviu no exército nacionalista, atuando na frente de Zaragoza e na Batalha de Teruel (dezembro de 1937 a fevereiro de 1938). Chegou a ser ferido em combate com metralha.


Meu pai, Diamantino Vega, foto de 1969, quando serviu no exército espanhol ainda nos anos do generalíssimo, o caudilho Francisco Franco. Na foto está jurando a bandeira.










 

quarta-feira, 4 de maio de 2022

Entrevista no Podcast À Deriva (David Vega)

Confira a entrevista no Podcast À Deriva sobre o nacionalismo e seus desdobramentos em grupos dissidentes de rua. Conversa com Arthur Petry em 03 de maio de 2022.

quarta-feira, 20 de abril de 2022

Da Revolução de Gutemberg aos Algoritmos

Por: David Vega



O ser humano já surge como um ser social, é preciso a relação com o outro para que nós possamos construir o nosso “eu”. Se antes a linguagem se dava, esta, diga-se de passagem, não apenas a fala, mas a corporal e demais que possibilitam a comunicação, se dava pela via oral e visual, com o advindo da escrita, fato que marca o início da nossa História, dividindo a Pré-História da Antiguidade, a criação de anagramas, runas e alfabetos diversos foi o tiro inicial para uma revolução na humanidade da qual ainda continua avançando, feito uma flecha atirada ao infinito e de trajetória constante, hoje ela ocorre em outras frentes também.

Os escribas antigos eram considerados sagrados, por muito tempo saber ler e escrever era sinal de distinção, como todo saber ou conhecimento, trazia poder, status e privilégio. Depois, já na Idade Moderna, a reforma protestante foi responsável pelo avanço da alfabetização de boa parte do globo terrestre. A partir de então, podemos falar no surgimento da imprensa, com a revolução da prensa de Gutemberg, que possibilitou a impressão de grandes tiragens e cópias de livros e panfletos. Tal acontecimento, fez surgir as narrativas históricas dos povos, forjou documentos à burocracia, tão necessária à organização de um Estado, e também ao registro científico ou até o religioso, que se mantém até hoje para o conhecimento popular através de edições e mais edições e tiragens republicadas a cada geração.

Os números são infinitos, e seria impossível através da contagem, ou de um controle artificial, controlar a sua progressão. Ora, nosso alfabeto fonético latino, pode fazer combinações de letras e símbolos e seguir também nessa vastidão sem fim formando frases, parágrafos e o que mais se fala nos dias de hoje: códigos (ou o que chamam de algoritmos).

Quando se inventou o computador, a linguagem na forma de escrita passou a combinar símbolos e operar sistemas dentro de uma tela. Depois da internet, esses códigos, incontroláveis feito uma progressão aritmética, reconhecem toda citação onde a palavra foi escrita, ou as palavras relacionadas ao que o digitador inseriu, e dão como resultado de busca tudo aquilo que faz parte do tema pesquisado. Não mais precisamos das citações acadêmicas atrás dos livros ou do catálogo de uma biblioteca, embora eu ainda seja à moda antiga para essas coisas. O algoritmo então passa a ser algo fora de nosso alcance. Alguns mais crentes em distopias afirmam que poderemos ser escravos dessas combinações uma vez que a tecnologia avançando, talvez poderíamos ligar nossos cérebros à realidade virtual. O projeto audaz do metaverso poderá trazer uma realidade paralela sem mais precisarmos de um portal ou buraco negro à outra dimensão. Será que abandonaríamos nossa humanidade para vivermos presos ao virtual, explorando um universo infinito com um Google Glass em nossos olhos sem jamais sairmos dos quartos de nossos apartamentos? A desumanização da arte começou desde que o intento de reverenciar deuses foi substituído pela destruição dadaísta, bem como a fotografia substituiu a perfeição clássica da Renascença. Chegamos atualmente à remoção da humanidade em nós mesmos, claro que a tecnologia tornou nossas vidas mais fáceis, mas se a desmedida é a medida do homem, exageramos ao ponto de algoritmos ou informações e privacidade se tornarem mais valiosas entre a disputa de governos e Estados do que a força das armas, é um novo tipo de dominação, que se não usada sabiamente, poderá trazer consequências danosas através da megalomania de déspotas.

As próximas gerações que já nascem imbricadas com a realidade virtual devem ter uma educação que lhes ensinem a também lidar com o mundo concreto. Igual quando a professora fazia a gente plantar um feijãozinho no primário e acompanhávamos o crescimento da planta. Pois o mundo real pode ser encantador e cheio de oportunidades como aquele da abstração também, isso sem deixarmos nossa mínima condição animalesca também, pois queiramos ou não, ainda somos muito mais símios do que gostaríamos.

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Por uma nacionalidade centralizadora resultante dos municipalismos

Por: David Vega.


O Brasil é um país continental e de culturas muito peculiares em cada região, embora tenhamos uma unicidade. Muito se fala da Revolução Farroupilha do Rio Grande do Sul, que se insurgiu contra o Império Brasileiro (1822-1889), mas você sabia que o nordeste também teve a sua insurreição? É muito importante entender das diferentes regiões do Brasil, pois as suas singularidades compõem frações de uma cultura nacional, que apesar de múltipla, tem uma simbiose. O gaúcho, o caipira, o caboclo, o sertanejo, o tropeiro, o pantaneiro ou qualquer outra manifestação típica de uma espécie de gentílico, ou melhor, definição de povo de alguma região, foi alterada com a introdução de estrangeirismos. O caipira paulista herdou muito do carcamano italiano, do sírio libanês e do nipônico, bem como o gaúcho germanizou-se e o nordestino tem algo do neerlandês e do batavo. Porém o cerne de cada cultura regional conservou um embrião que faz o território vasto que os bandeirantes e retirantes nômades povoaram um país mais em comum do que imaginamos.

Pouco antes da independência do Brasil (em 7 de setembro de 1822), vários movimentos republicanos, inspirados pela república francesa pós revolução, pipocaram por todo o país. Em Pernambuco houve em 1817 um levante, mas foi suprido pelo império e algumas figuras importantes foram perdoadas. Uma figura expoente do movimento pernambucano era Frei Caneca (executado depois), imaginavam um país republicano que englobaria além de Pernambuco, o Piauí, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Ceará e a antiga Comarca do Rio São Francisco, que hoje pertence ao oeste baiano e partes de Goiás. O nome da região seria a Confederação do Equador.

Os revoltosos criticavam José Bonifácio, o patrono da independência, mas aceitaram a monarquia na esperança de uma autonomia regional. Quando a revolta se instaurou, o império brasileiro teve que pedir ajuda ao exército britânico, sob o comando de Thomas Cochrane, que conteve a rebelião. Muito se fala dos estados do sul confederados norte-americanos, mas o nordeste já lutou por sua autonomia e contribuiu para o movimento republicano brasileiro, que depois viria a ter mais presença em São Paulo, mas isso só no final do século XIX.

As diversas tentativas de secessão em nosso território trouxeram um carinho para com o regionalista e seu bairrismo, mas sem nunca abalar o sentimento nacional. No meu caso mesmo, sou filho de imigrante espanhol por parte de pai, e de avó caipira e avô sertanejo por parte materna, este último que veio à Paulistânia e aqui se fixou. São Paulo tem a sua cultura própria, que é a resultante da expressão nacional e mundial. É perfeitamente possível celebrar 1932 (e eu sei que é errado atribuir separatismo ao movimento) bem como os restantes eventos do Brasil.

Bento Gonçalves e Garibaldi não são só heróis sulistas, é perfeitamente recomendado que sejam estudados e reverenciados em outras regiões, bem como os Malês da Bahia, a Cabanagem, a Sabinada, Balaiada, a Revolta dos Alfaiates etc. Acima de tudo, republicanos ou não, devemos reconhecer o nosso passado imperial. Não na tentativa de se copiar modelos antigos restritos ao tempo, mas reinventarmos um Brasil com as características municipalistas que irão compor um todo ligado a uma centralidade que nacionaliza a nós todos.

O marechal Cândido Rondon forjou o centro-oeste e o norte, vencemos a batalha contra os bolivianos e hoje o Acre é também Brasil! Graças ao célebre Rio Branco e suas habilidades diplomáticas. Do Oiapoque ao Chuí, somos um só povo. E a competição de narrativas, se o país começou com a chegada de Cabral a Porto Seguro, ou após a Batalha de Guararapes, ou com a independência de 1822, não leva a lugar algum. São todas estas juntas!

Somos a matriz Jê, ou o tronco Tupi, os Kalapalos ou Charruas, somos os Iorubás, os Bantos e sudaneses, todos unidos baixo a portugalidade e a hispanidade! As culturas são tão autênticas, que faz do nosso país uma unidade na diversidade!

segunda-feira, 11 de abril de 2022

A Hispanidade para o Mundo Lusófono do Século XXI (David Vega)

 


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A Hispanidade para o Mundo Lusófono é uma proposta feita através de uma argumentação sociológica, antropológica e histórica sobre a grande Ibéria e seus desafios para o século XXI. Uma federação nos moldes constitucionais que respeite a autonomia de seus particularismos, seria plenamente possível entre as duas nações da velha península de além mar para o século XXI, e diria ainda mais, para a Hispano-américa (incluindo o Brasil) e toda a iberosfera. Não é a defesa de submissão às antigas metrópoles, mas uma união cultural, com cada país, seja monárquico ou republicano, exercendo a sua soberania. Remover fronteiras não significa a dissolução de poderes locais!

Para tanto, justifico a visão de um universo ibérico não centrado em uma raça em específico, dado a complexidade de povos que formaram Portugal e Espanha e os demais que foram incorporados em seus antigos virreinatos (vulgarmente chamados de colônias). José Vasconselos já falava que o mestiço é uma “raça cósmica” (leia-se o temo referente à cultura também). Viriato, o expoente herói da Lusitânia, é herói em Espanha também, pois suas tribos eram do tronco celtibero que depois da romanização, trouxe a face dos filhos de Netón às legiões que mais tarde, já cristianizados, visigodos e suevos anexariam com a queda do império e a ascensão de Alarico. Vale lembrar, que entre os mouros que cruzaram Gibraltar, depois de uma traição e disputa interna entre os visigodos, vários povos compunham os exércitos de cimitarras baixo uma elite árabe, porém entre eles, até eslavos do leste e descendentes dos persas haviam. A Reconquista que se concluiu em 1492 teve a sua continuação após as descobertas de Colombo e Vespúcio quando se iniciou o povoamento das Américas pelos ibéricos. Se em 1494 o mundo foi dividido entre esses dois povos irmãos, o cordão umbilical da Ibéria nunca foi rompido, apesar de disputas inclusive em solo brasileiro entre bandeirantes e jesuítas, ou os insurgentes que se levantaram contra Felipe II. Rivalidades à parte, o tipo de colonização português teve características muito similares ao espanhol, dando uma espécie de unicidade entre os falantes dos idiomas de Camões e de Cervantes. Nos Lusíadas é mencionado na epopeia de Vasco da Gama, o navegante, como herói das duas Espanhas! Ambos povos fruto da fundição de raças que gerou um amálgama inquebrantável, preservando o melhor de cada etnia, o rosto amorenado do gaúcho, cujas origens maragatas tem influencias árabes e indígenas, com vestimentas da região da Maragatería, em León. Também dos mamelucos paulistas no início da Capitania de São Vicente; bandeirantes como Bartolomeu Bueno da Silva, ou o próprio Anchieta, nascido nas Ilhas Canárias embora sua origem fosse basca. A antiga Filipéia, capital da Paraíba antes de se chamar João Pessoa, o nome era homenagem a Felipe II. Como a noção do V Império do Padre Antonio Vieira também era uma espécie de Hispanidade, o ideal da Latinidade de uma Nova Roma. A cultura hispânica, e leia-se, de ambas nações, pois aos romanos a Hispânia era toda a península, deixou marcas não só no estilo das casas bandeirantes, que se assemelham às de adobe em Quito e as de Bolívar na Grã-Colômbia, como no nosso palavreado local, o “Oxente” do baiano, de influência galega, como produziu diversas figuras de nossa História.

Também abordo no livro as estruturas que herdamos inclusive da Ibéria medieval em solo nacional, não apenas explicando a hacienda da hispano-américa, bem como a Casa Grande e sua união com a senzala, exemplificada por Gilberto Freyre (que é nome referência ao estudo do hispanismo no Brasil) e as relações de compadrio que se assemelham ao comitatus dos visigodos. O FOEDERATI, berço da noção de federação que temos, já era praticado por esse sistema de fidelidade, a FIDES, onde unidos por um mesmo sangue, senhor e servo se reconheciam como primos ou parentes, embora houvesse distinção social, e no livro não tenho a intenção de manter velhas estruturas arcaicas, mas trazer ao estudo uma característica comunal que forjou uma peculiaridade inclusive ao nosso capitalismo e relações de Estado, fundindo o público com o privado e pouco afeito à impessoalidade, a crítica é primordial. Curioso é conseguirmos identificar essa estrutura de sociedade nos interiores do Brasil antes da urbanização, mesmo entre povos miscigenados marcados também pelo escravismo, o que nos prova que é possível dar uma brasilidade e hispanidade ao povo de toda América de línguas latinas, independente do fenótipo de seus filhos. Darcy Ribeiro já apontava a prática do cunhadismo, do qual João Ramalho e Caramuru são figuras ícones.

Pensei que era imprescindível escrever algo sobre o tema, sendo eu um exemplo dessa integração de nações e continentes irmãos; sou filho de pai espanhol e de mãe caipira, que metaforizam a união de povos siameses com os rostos opostos, porém na contemporaneidade, se reconhecem muito mais nas convergências do que nas ideias que há anos vem tentando separar-nos, importando tudo o que vem de Paris e Londres. Somos a união da Malinche com Cortez, e um não precisa anular o outro! O uso da Leyenda Negra por parte dos inimigos de Castela é abordado no livro também, explico como Guilherme de Orange da Holanda, ainda nas guerras entre protestantes e católicos durante o reinado de Carlos V, forjou narrativas contra a Inquisição, depois iriam anexar os relatos particularistas de Bartolomé de las Casas e dos filhos de Francis Drake, os ingleses, aplaudidos pela rainha, que martelaram contra a madre pátria por séculos. Tal prática seria usada depois pelo Big Stick estadunidense visando sua influência sobre o continente, principalmente depois da derrota da guerra hispano-americana de Cuba, em 1898.

Trago à discussão uma outra versão da chegada dos primeiros europeus modernos ao Brasil, em que Vicente Yáñez Pinzón, irmão de Marin Alonso, que esteve nas caravelas de Colombo, teria chegado ao Cabo de Santo Agostinho no litoral pernambucano, antes de Cabral aportar em Porto Seguro (o que não invalida a figura de Cabral como o precursor do que entendemos de Brasil hoje). O sebastianismo é descrito também, este tem características peculiares em nosso solo, e tal movimento só foi possível depois do desaparecimento de Dom Sebastião, tendo como consequência a União Ibérica (1580-1640). O caso da nossa Amazônia, em que Francisco de Orellana foi o primeiro a navegar, mas o português Pedro Teixeira foi o primeiro a fazer o percurso completo. Provando que tal território é soberano e do Brasil! Bem como as partes que ocupam nossos países vizinhos também lhes pertencem, e não a nações que visam toma-las de nós. A disputa que se terminou com o Tratado de Madrid (1750) não se dá mais entre portugueses-brasileiros e hispânicos irmãos, mas entre interesses de povos do mundo inteiro que usam ideologicamente antigas feridas entre povos de uma mesma origem, única e exclusivamente para dividir e assim conquistar.

O primeiro evento que nos marca como nação, ainda no Brasil colônia, quando expulsamos o invasor batavo, mostrou um exemplo de brasilidade! Onde mamelucos, cafusos, brancos, negros, portugueses e hispânicos que aqui viviam, foram comandados pelo general negro, Henrique Dias, e assim se iniciou a vontade de um povo diversificado, que anos mais tarde viveria unido baixo uma mesma bandeira.

Além do caráter histórico do livro, faço um aparato de observações e algumas conclusões e propostas para que reinventemos nossa Iberosfera, seja na América, na Península, em África ou Ásia, e para todo descendente que viva em algum país não latino também, independente de seu idioma ou aparência, pois sempre irá pertencer à família da latinidade. Não digo que o socialismo nos moldes bolivarianos seja a solução, trazer um falso nacionalismo e uma leitura dos nossos heróis do passado falaciosa só prejudica nossa posição no mundo em nome de doutrinas execráveis! A liberdade é fundamental, mas em uma época de múltiplos polos, também precisamos preservar nossas instituições democráticas sem perdermos nossa característica cultural. O Brasil e nossos países vizinhos sempre foram vistos como “vira-latas” aos olhos dos preconceituosos, e chegou a hora de assumirmos para o mundo com orgulho o que nós somos, deixarmos de ser estrangeiros na nossa própria terra, desterrados na nossa própria pátria. A hispanidade e junto, a portugalidade, é também a africanidade e o indigenismo, todos juntos, na construção de um continente unido, que irá contribuir para o planeta com seus particularismos, sem separatismos, sem anular o todo – a unidade na diversidade!