David Vega fala sobre seu livro “Cadarços Brancos – Entre o Sonho e a Barbárie”.
1) Começaremos com uma pergunta que não quer calar, creio que muitos dos seus leitores desejam saber: “Por que surgiu o interesse em escrever sobre o polêmico tema de Cadarços Brancos”?
- Primeiramente boa tarde nobres amigos do CBE. É sempre uma honra participar de suas publicações. Bom, o que posso dizer é que “nasci em uma época errada” (risos), desde muito jovem fui assombrado pela sede do saber, atormentado pela busca de explicações de fenômenos da psique humana, comportamento de “grupos”, questões étnicas, rivalidades históricas, o meio físico atuando no homem… E desde então, procurei pesquisar a fundo o que se dá nas entrelinhas de movimentos considerados hoje “enterrados”, como são suas ações no cenário atual, que alterações apresentam, se comparados com as suas versões originais do passado…
Nos anos do colégio, a instituição que freqüentei se encontra no centro de São Paulo e abrange estudantes de todos os cantos da cidade, todas as tribos e classes sociais. Foi nesse universo misto, que eu encontrei figuras ímpares, jovens quixotescos que aliados à ideologia utópicas (na maioria das vezes) demonstravam um terreno fértil para um aprimorado estudo de campo. Confesso que em algum momento de minha vida me deixei levar, devido à quentura do idealismo da juventude, passado esse conturbado período de minha adolescência, decidi registrar a exótica realidade das tribos (de Skinheads e Punks) que conheci, pelo olhar de um personagem fictício do qual emprestei muito de mim (risos), fez-me lembrar muito da minha adolescência e dos colegas de classe.
Acho interessante que se faça um trabalho desses, através do ponto de vista de um “ex-membro” (embora não tenha realmente participado de nenhum grupo, apenas vivenciei e acompanhei a trajetória, de longe). É algo inédito no Brasil, uma vez que todos trabalhos já realizados sobre o tema, são de propósitos acadêmicos e/ou políticos.
Talvez a melhor “prevenção” e “conscientização” venha da boca de alguém que realmente viveu os fatos.
2) Em seu livro, o senhor registra um fato muito curioso, “de que nem todos Skins são vinculados ao neonazismo”, explique brevemente;
- Bom, os jovens da classe operária britânica, nos anos 60, junto de imigrantes jamaicanos, derivados de uma cultura conhecida como MOD (Modernist), que inclusive influenciou o Pink Floyd, se reuniam nos Pubs de desempregados e suburbanos de Londres com um visual típico (Botas, cabeça raspada, suspensórios…), curtiam o Rocksteady e Ska (trazidos pelos jamaicanos, conhecidos como Rude Boys), daí influenciou o atual Reaggae…
Nos 70 começa o vínculo com partidos Socialistas e de Ultra Direita (como o National Front), dando origem a outras vertentes dos Skins (RASHS – Comunistas e Arnaquistas e WPs – defensores do nazi-fascismo e do Orgulho Branco). Devido à violência e a rotulação da mídia, principalmente sobre as gangues dos anos 80 e 90, hoje o movimento é relacionado ao neonazismo, o que em parte está incorreto.
3) Como é possível essas idéias terem êxito entre jovens no Brasil, se tratando de uma nação originalmente mestiça?
- Aí é que está, os conhecidos “Carecas” são uma versão abrasileirada dos “originais” britânicos, a política está envolvida entre eles, de caráter integralista e ultra-nacionalista (muitos saudosos da Ditadura Militar), acontece, que não são racistas, esses jovens defendem um “orgulho brasileiro”, chegando a serem inclusive contrários à imigração branca européia em solo nacional (a grande maioria dos Carecas são mestiços e/ou pardos de origem nordestina, dos subúrbios do A.B.C e as zonas leste e norte, infiltrados em torcidas organizadas).
A parcela de neonazistas é quase nula no Brasil (na América do Sul, eles têm mais força na Argentina e no Chile), existem apenas pequenas células em São Paulo e nos estados do sul, devido à grande massa de imigrantes da Europa (principalmente é atuante nas comunidades Italianas, Alemãs, Polonesas, Ucranianas, Espanholas e Portuguesas). Os Carecas e os “WP” (White Power) constantemente estão em briga, coisa que a mídia não reconhece, julgando todos como “racistas” (embora muitos não suportem a comunidade judaica nacional e os partidos de esquerda, principalmente os comunistas e movimentos não governamentais como o Movimento Negro, o MST, ações como as cotas raciais nas universidades…).
No Brasil também se encontra todas as vertentes do movimento, mas são quase que “esquecidos” e rotulados erroneamente por se utilizarem do termo “SKINHEAD”.
4) Acha que a polêmica que poderá vir a surgir, se tratando desse assunto, poderá comprometer a sua imagem?
- De maneira alguma, eu admito que o livro é “pesado”, como qualquer outro que se trata de criminalidade e realismo nu e cru. Porém, estou de consciência tranqüila com as autoridades e com os próprios membros dos grupos, pois mesmo que mencione alguns deles, preservei suas identidades verdadeiras. Um grupo que não vem ao caso mencionar, me atribuiu a taxação de “fascista”, mas relevo, não se pode agradar a todos, considero ações como estas muito limitadas e infantis, pois não quer dizer que só por que se escreve sobre um determinado assunto, fazemos parte dele, ou defendemos ele.
Estou aberto ao debate, quem quiser, é só solicitar um bom e saudável “brainstorm” democrático.
5) Poderia mencionar brevemente alguns desses jovens que são descritos na obra?
- Bem, não quero entregar todo meu trabalho (risos). Mas posso falar de 3 rapazes que marcaram muito. Um deles é um jovem de 19 anos apenas (agora deve ter uns 21), que se encontra detido, pois na passeata do Orgulho Gay, de 2009, ele junto de seus “camaradas” atiraram uma bomba de fabricação caseira no meio da multidão, entre os detidos, havia punks e inclusive meninas (uma delas estava grávida e deverá ter, se é que já não teve, seu filho na cadeia).
Também conheci um senhor, já de idade avançada, admirado pelos Skins integralistas, cujo nome saiu na imprensa diversas vezes (no livro é citado, aqui prefiro manter o sigilo), ele é um dos que reviveram a Ação Integralista Brasileira (A.I.B) e colaborou muito como defensor do Revisionismo. É meio irmão de um ex-senador da câmara, de uma família tradicional paulista.
Por fim, o mais trágico e conhecido de todos, recentemente mostrado pela mídia, foi o assassinato de um casal no Paraná, por disputa de liderança em uma organização neonazista que estava presente desde São Paulo às fronteiras da Argentina. O mandante do crime foi um empresário paulista, de família boa, da classe média alta, extremamente culto e com o dom do discurso.
1) Começaremos com uma pergunta que não quer calar, creio que muitos dos seus leitores desejam saber: “Por que surgiu o interesse em escrever sobre o polêmico tema de Cadarços Brancos”?
- Primeiramente boa tarde nobres amigos do CBE. É sempre uma honra participar de suas publicações. Bom, o que posso dizer é que “nasci em uma época errada” (risos), desde muito jovem fui assombrado pela sede do saber, atormentado pela busca de explicações de fenômenos da psique humana, comportamento de “grupos”, questões étnicas, rivalidades históricas, o meio físico atuando no homem… E desde então, procurei pesquisar a fundo o que se dá nas entrelinhas de movimentos considerados hoje “enterrados”, como são suas ações no cenário atual, que alterações apresentam, se comparados com as suas versões originais do passado…
Nos anos do colégio, a instituição que freqüentei se encontra no centro de São Paulo e abrange estudantes de todos os cantos da cidade, todas as tribos e classes sociais. Foi nesse universo misto, que eu encontrei figuras ímpares, jovens quixotescos que aliados à ideologia utópicas (na maioria das vezes) demonstravam um terreno fértil para um aprimorado estudo de campo. Confesso que em algum momento de minha vida me deixei levar, devido à quentura do idealismo da juventude, passado esse conturbado período de minha adolescência, decidi registrar a exótica realidade das tribos (de Skinheads e Punks) que conheci, pelo olhar de um personagem fictício do qual emprestei muito de mim (risos), fez-me lembrar muito da minha adolescência e dos colegas de classe.
Acho interessante que se faça um trabalho desses, através do ponto de vista de um “ex-membro” (embora não tenha realmente participado de nenhum grupo, apenas vivenciei e acompanhei a trajetória, de longe). É algo inédito no Brasil, uma vez que todos trabalhos já realizados sobre o tema, são de propósitos acadêmicos e/ou políticos.
Talvez a melhor “prevenção” e “conscientização” venha da boca de alguém que realmente viveu os fatos.
2) Em seu livro, o senhor registra um fato muito curioso, “de que nem todos Skins são vinculados ao neonazismo”, explique brevemente;
- Bom, os jovens da classe operária britânica, nos anos 60, junto de imigrantes jamaicanos, derivados de uma cultura conhecida como MOD (Modernist), que inclusive influenciou o Pink Floyd, se reuniam nos Pubs de desempregados e suburbanos de Londres com um visual típico (Botas, cabeça raspada, suspensórios…), curtiam o Rocksteady e Ska (trazidos pelos jamaicanos, conhecidos como Rude Boys), daí influenciou o atual Reaggae…
Nos 70 começa o vínculo com partidos Socialistas e de Ultra Direita (como o National Front), dando origem a outras vertentes dos Skins (RASHS – Comunistas e Arnaquistas e WPs – defensores do nazi-fascismo e do Orgulho Branco). Devido à violência e a rotulação da mídia, principalmente sobre as gangues dos anos 80 e 90, hoje o movimento é relacionado ao neonazismo, o que em parte está incorreto.
3) Como é possível essas idéias terem êxito entre jovens no Brasil, se tratando de uma nação originalmente mestiça?
- Aí é que está, os conhecidos “Carecas” são uma versão abrasileirada dos “originais” britânicos, a política está envolvida entre eles, de caráter integralista e ultra-nacionalista (muitos saudosos da Ditadura Militar), acontece, que não são racistas, esses jovens defendem um “orgulho brasileiro”, chegando a serem inclusive contrários à imigração branca européia em solo nacional (a grande maioria dos Carecas são mestiços e/ou pardos de origem nordestina, dos subúrbios do A.B.C e as zonas leste e norte, infiltrados em torcidas organizadas).
A parcela de neonazistas é quase nula no Brasil (na América do Sul, eles têm mais força na Argentina e no Chile), existem apenas pequenas células em São Paulo e nos estados do sul, devido à grande massa de imigrantes da Europa (principalmente é atuante nas comunidades Italianas, Alemãs, Polonesas, Ucranianas, Espanholas e Portuguesas). Os Carecas e os “WP” (White Power) constantemente estão em briga, coisa que a mídia não reconhece, julgando todos como “racistas” (embora muitos não suportem a comunidade judaica nacional e os partidos de esquerda, principalmente os comunistas e movimentos não governamentais como o Movimento Negro, o MST, ações como as cotas raciais nas universidades…).
No Brasil também se encontra todas as vertentes do movimento, mas são quase que “esquecidos” e rotulados erroneamente por se utilizarem do termo “SKINHEAD”.
4) Acha que a polêmica que poderá vir a surgir, se tratando desse assunto, poderá comprometer a sua imagem?
- De maneira alguma, eu admito que o livro é “pesado”, como qualquer outro que se trata de criminalidade e realismo nu e cru. Porém, estou de consciência tranqüila com as autoridades e com os próprios membros dos grupos, pois mesmo que mencione alguns deles, preservei suas identidades verdadeiras. Um grupo que não vem ao caso mencionar, me atribuiu a taxação de “fascista”, mas relevo, não se pode agradar a todos, considero ações como estas muito limitadas e infantis, pois não quer dizer que só por que se escreve sobre um determinado assunto, fazemos parte dele, ou defendemos ele.
Estou aberto ao debate, quem quiser, é só solicitar um bom e saudável “brainstorm” democrático.
5) Poderia mencionar brevemente alguns desses jovens que são descritos na obra?
- Bem, não quero entregar todo meu trabalho (risos). Mas posso falar de 3 rapazes que marcaram muito. Um deles é um jovem de 19 anos apenas (agora deve ter uns 21), que se encontra detido, pois na passeata do Orgulho Gay, de 2009, ele junto de seus “camaradas” atiraram uma bomba de fabricação caseira no meio da multidão, entre os detidos, havia punks e inclusive meninas (uma delas estava grávida e deverá ter, se é que já não teve, seu filho na cadeia).
Também conheci um senhor, já de idade avançada, admirado pelos Skins integralistas, cujo nome saiu na imprensa diversas vezes (no livro é citado, aqui prefiro manter o sigilo), ele é um dos que reviveram a Ação Integralista Brasileira (A.I.B) e colaborou muito como defensor do Revisionismo. É meio irmão de um ex-senador da câmara, de uma família tradicional paulista.
Por fim, o mais trágico e conhecido de todos, recentemente mostrado pela mídia, foi o assassinato de um casal no Paraná, por disputa de liderança em uma organização neonazista que estava presente desde São Paulo às fronteiras da Argentina. O mandante do crime foi um empresário paulista, de família boa, da classe média alta, extremamente culto e com o dom do discurso.
6) Muito obrigado pelo seu tempo David, se nota que o trabalho está completo, devido à quantidade de informações que esclareceu nessa entrevista. Queria que deixasse uma mensagem para os jovens que por ventura venham a se interessar sobre o livro e diga quais são seus próximos projetos.
- Deixo apenas uma mensagem. Como escreveu Leon Tolstoi: “Se descreveres o mundo tal como ele é, haverá em suas palavras senão muitas mentiras, e nenhuma verdade”. Todos somos responsáveis pelas escolhas que fazemos na vida, cabe a percepção e inteligência de se perguntar: “Será que isso vale a pena, será que acrescenta algo para minha formação como ser pensante?”.
Leiam o livro, e tirem suas conclusões, todas são válidas, mas que sempre mantenhamos o senso crítico e a capacidade de argumentação (válida e sensata).
(risos) Quanto a próximos projetos, tenho alguns, mas nada tão complexo como o CADARÇOS BRANCOS (risos). No momento me dedico às crônicas e poesias, e estou pensando em um romance ficcional.
Espaço Celtibero Edições, junho de 2010.
Entrevista: David Vega: Pesquisador de história e estudioso de sociologia e antropologia.
CADARÇOS BRANCOS pode ser encontrado para a venda nas seguintes livrarias:
(Acessem os links)
- Deixo apenas uma mensagem. Como escreveu Leon Tolstoi: “Se descreveres o mundo tal como ele é, haverá em suas palavras senão muitas mentiras, e nenhuma verdade”. Todos somos responsáveis pelas escolhas que fazemos na vida, cabe a percepção e inteligência de se perguntar: “Será que isso vale a pena, será que acrescenta algo para minha formação como ser pensante?”.
Leiam o livro, e tirem suas conclusões, todas são válidas, mas que sempre mantenhamos o senso crítico e a capacidade de argumentação (válida e sensata).
(risos) Quanto a próximos projetos, tenho alguns, mas nada tão complexo como o CADARÇOS BRANCOS (risos). No momento me dedico às crônicas e poesias, e estou pensando em um romance ficcional.
Espaço Celtibero Edições, junho de 2010.
Entrevista: David Vega: Pesquisador de história e estudioso de sociologia e antropologia.
CADARÇOS BRANCOS pode ser encontrado para a venda nas seguintes livrarias:
(Acessem os links)
Livraria Saraiva: http://www.livrariasaraiva.com.br/pesquisaweb/pesquisaweb.dll/pesquisa?ESTRUTN1=&ORDEMN2=E&PALAVRASN1=cadar%E7os+brancos&ORDEMN2=E&FILTRON1=X&image2.x=14&image2.y=15
Livraria Cultura: http://www.livrariacultura.com.br/scripts/cultura/busca/busca.asp?palavra=cadar%E7os+brancos&tipo_pesq=titulo&sid=201140214126677898114439&k5=11338E75&uid=&limpa=0&parceiro=ORXJOI
Submarino: http://www.submarino.com.br/produto/1/21824291/cadarcos+brancos
Caso deseja adquirir diretamente: Peça no email; dvega10@hotmail.com
Vi a entrevista, gostei bastante!!
ResponderExcluirParabéns, continue nesse caminho! É a sua cara!
Sucesso!!
Simone