quarta-feira, 2 de agosto de 2023

Uma História dos Movimentos Nacionalistas - David Vega (2023)


Lançamento (2023)

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Sinopse

O mundo pós-moderno; a resultante da falência das grandes utopias depois que o Muro de Berlim veio abaixo em 1989, seria aquele cuja História teria chegado a seu fim e o triunfo do capitalismo, a única ideologia possível, não permitiria um questionamento de seu sistema enraizado nas democracias representativas.

No entanto, o que assistimos desde a crise imobiliária de 2008 e a realidade pós-pandemia é que uma internacional dos nacionalismos emergiu inexoravelmente no globo. Apesar de não se apresentarem na sua totalidade, os movimentos de outrora resgatam alguns elementos desconexos no seio do neoliberalismo. Assim como o comunismo precisou se reinventar para sobreviver, os nacionalismos tentam, a seu modo, trazer a alternativa pelo viés da multipolaridade.

Este livro terá o registro histórico dos principais movimentos nacionalistas das décadas de 1920-30, apresentando um pouco de sua base conceitual e prerrogativas para o leitor leigo ou não, uma vez que pensava-se estarem superados depois da Segunda Guerra Mundial. Será que o pragmatismo cético político permitirá o ressurgimento das velhas ideias espiritualistas?

Apresentação

Quando estava na 5ª série do Ensino Fundamental, aos onze anos, durante meu processo de formação enquanto pessoa e do caráter, meu pai, que sempre despertou em mim uma curiosidade sem tamanho devido ao fato do mesmo ser imigrante e pertencer a uma outra cultura, contava-me suas memórias do além mar, na província de Leon (Espanha) que já abrigou a VII Legio Romana, em Asturica Augusta (atual cidade de Astorga). Além de suas histórias de quando esteve no exército durante a década de 1960, servindo na Artilharia Antiaérea em pleno regime franquista, havia também os feitos de glória de seu pai (meu abuelo) e de meus tios avós que lutaram na Guerra Civil Espanhola (1936-1939).

Empolgado, então, comentei com o velho professor de História da escola do bairro onde cresci que meu avô lutou no bando nacionalista na guerra. Lembro até hoje do acadêmico grisalho fazer uma expressão espanto, talvez até de desprezo, e falar que apoiava a causa dos republicanos. Ainda muito jovem, eu não fazia ideia qual era a diferença de um lado e outro que esteve em conflito, e até com uma decepção aparente, do professor dizer que não concordava com o lado ao qual meu antepassado lutou bravamente, desde então, resolvi que devoraria todo tipo de material para fazer jus à memória de meu avô.

Passei a ler todo tipo de livro que conseguia nas livrarias Sebos. Tive contato com aquela brilhante coleção Renes, da História Ilustrada do Século da Violência e da Segunda Guerra Mundial, cujos fascículos eram traduzidos da coleção original; a Ballantine Books. Bem como os relatos impressionantes de pessoas que viveram as guerras, até as façanhas de espionagem, dos números da Flamboyant. Muito desse acesso às coleções que marcaram épocas serviram-me para escrever o livro “Bellum – A Guerra como Atividade Humana” lançado em 2023, onde faço um aparato das guerras desde a antiguidade. Pois bem, partindo de uma premissa semelhante, além de preservar a memória do abuelo, decidi legar ao mundo, humildemente, minhas impressões quanto às ideias que orbitavam o passado político de minha família do outro lado do Atlântico.

            Meu avô não era um militante político da Falange, ele, assim como seus cunhados que também estiveram nas frentes de Aragón (Zaragoza) e na Batalha de Teruel (1937-38), foi recrutado pelo serviço militar obrigatório e enviado ao front (sendo ferido com metralha em combate). Naquele período de incansável investigação literária e filosófica, onde tive acesso aos diferentes espectros que estavam em conflito da guerra civil mais sangrenta da História, realmente pude elaborar meu senso crítico, bem como li (ou ouvi) pela primeira vez o que seria o carlismo, fascismo, comunismo, nacional-socialismo, anarco-sindicalismo e tantos “ismos” - a cada página virada, mais parecia que a vastidão desse terreno fecundo de ideologias não tinha fim.

            Não apenas me contentava em aprender sobre os movimentos, bem como quis viver as ideologias ao chegar na adolescência, por volta dos dezesseis anos, quando integrei um grupo de skinheads da cidade de São Paulo. De fato, foi um passo para a criminalidade, entretanto cresci muito intelectualmente também, pois aqueles garotos que faziam parte da cultura dos Carecas, apresentaram-me a um mundo inexplorado pela academia convencional. Tive acesso aos exemplares da extinta Editora Revisão, que independente de cairmos na discussão sobre a validade científica de seu conteúdo, mostrou-me uma indignação, era como se eu fosse um dos poucos no mundo a saber da “verdade” oculta pelos conglomerados midiáticos e as instituições que julgava “sionistas”.

Bem, é verdade que a maturidade intelectual com o tempo vem, e mesmo que honre ainda o legado de meu avô veterano, sei que é possível estar no campo democrático e estudar o assunto para uma área do conhecimento que vale a pena ser desmembrada, até mesmo no intento de se evitar erros do passado, este, muitas vezes idealizado por jovens radicais.

Hoje, já graduado em Sociologia, dedico este documento às ideologias e movimentos nacionalistas diversos que julguei serem os mais relevantes, de tendências político-espiritualistas, para um entendimento definitivo a um público dissidente e também leigo sobre as aspirações da chamada Terceira Posição. No início dos anos 2000, devido à chegada da internet, um salto intelectual se deu em minha bagagem cultural e informativa de tais agremiações, lembro-me dos blogs do portal argentino Libreopinión, onde nacionalistas de todo o mundo podiam publicar seus textos. Também o site Mídia Sem Máscara, local modesto que o pessoal tinha a oportunidade de interagir, até a chegada das primeiras redes sociais, tal qual o extinto Orkut, lá, através de comunidades de afinidades a galera fazia contato.

Por meio do digital, outros grupos surgiram; os Nacional-Revolucionários, ou uma fusão da esquerda com os nacionalistas no leste da Europa, dando origem ao Nacional-Bolchevismo, de Eduard Limonov, que inspirou a Quarta Teoria Política de Alexandr Dugin, hoje, a base dos ideais da Nova Resistência - o grupo nacionalista de maior expressão no Brasil atual.

Os marxistas definem o nacionalismo como subproduto do capitalismo e expansionista, sendo a base do imperialismo. Depois do Ancien Régime, criou-se a padronização dos mercados. O verdadeiro marxismo é internacionalista, mas a ideia de “revolução em um só país” de Stálin, trouxe o chamado nacionalismo de esquerda. Marx defendeu a causa dos irlandeses, apesar de concentrar-se apenas no estudo das forças produtivas e econômicas da sociedade, negando outros aspectos antropológicos fundamentais ou até biológicos.

O nacionalismo seria uma “história singular partilhada”, ou nas palavras de Benedict Anderson, uma comunidade imaginada. Podendo este ser étnico ou cívico. Países multirraciais como o Brasil, até por não partilharem do direito de nacionalidade pelo jus sanguinis (direito de sangue), definem o seu gentílico pelo fato de nascermos em seu solo. É o patriotismo cívico, e não o etnossimbolismo racialista que sustenta o nacionalismo brasileiro, diferente das nações onde as questões étnicas estão imbricadas com a cultura.

Além dos capítulos destinados aos movimentos, este livro tem uma conclusão situando as ideologias na atualidade e os desafios para o futuro em uma contemporaneidade onde o neoliberalismo se fez triunfante. Não saberia dizer se chegamos realmente ao “Fim da História”, defendido por Francis Fukuyama. A reinvenção do patriotismo, que traz o conceito de Dasein de Heidegger para um mundo multipolar situa-se em uma espécie de internacional dos nacionalismos, enfrentando uma pós-modernidade cada vez mais avessa à tradição, assombrada pelos erros do “nazifascismo” no passado (principalmente o holocausto retratado incansavelmente no Cinema hollywoodiano), o que dificulta uma legitimação de tais prerrogativas.

                Reuni não só as informações sobre cada vertente, mas também tento trazer a base ideológica dos movimentos e seus pensadores, os personagens expostos são políticos e ideólogos poucos convencionais aos olhos da sociologia ou da ciência política institucionalizada, devido à sua marginalização por uma academia que tenta negar o acesso às doutrinas consideradas “indesejáveis”, portanto, esta obra não é uma mera “homenagem” a estas figuras, pretende apenas apresentar um campo filosófico pouco difundido ao estudante das Humanas.

Aqui não faço uma apologia à apologética das práxis dos grupos, é a tentativa de trazer à discussão um universo que embora tentem negar que exista, pelos preconceitos de uma elite política e intelectual que relega ao ostracismo a oposição que deve ser varrida ao esquecimento, ela sobreviveu (pelo menos alguns elementos isolados) à ação do tempo, e assim como o comunismo, também alterou-se, reinventando-se na pós-modernidade. É preciso quebrar tabus que só fazem um desserviço à investigação honesta do conhecimento, principalmente ao tratarmos dos “fascismos”; termo este que tornou-se sinônimo de chauvinismo, autoritarismo e ditadura. Há uma falsa premissa da esquerda tradicional em alegar que a reação é apenas reacionária à revolução e avessa às mudanças e não possui profundidade intelectual, como se a erudição fosse exclusivamente de um espectro político apenas. Tento desmistificar esta falsa noção prepotente neste documento, uma vez que existiram os grandes teóricos nacionalistas e devem ter uma devida atenção, pois idealizaram e reproduziram visões de mundo tão complexas quanto as das teorias críticas diversas, feito os frankfurtianos. O filosofar e a cosmovisão de uma sociedade “melhor” e mais “justa” ou o senso crítico, não são exclusivos de um espectro apenas. Diria ainda mais, é justamente no mundo pós fim da URSS que uma centro-esquerda, através da social democracia, aliada ao capitalismo liberal, passou a ser o status quo, a situação, e uma “direita” nacional-revolucionária apresenta-se como oposição contestadora do establishment.

O nacionalismo hoje tem uma caricaturização do fascista reacionário e ignorante. No entanto aqui pretendo trazer os principais ideólogos e filósofos de sua práxis. O que não quer dizer que não tenha se sustentado em autarquias e violência; lembremos que Matteotti foi assassinado, Gramsci encarcerado e tantos outros perseguidos. Porém devemos reconhecer se formos intelectualmente honestos, que a esquerda perseguiu e persegue ainda opositores em países totalitários que anularam o conceito de democracia, mesmo que utilizem esse termo para definir as suas repúblicas populistas.

Umberto Eco reconhece uma certa intelectualidade fascista, no entanto aponta que seu radicalismo e crítica à revolução liberal, contra os ideais principalmente da Revolução Francesa, reduz um discurso apodítico e axiomático em que não aceita oposição, pois esta estaria composta de “traidores”. Mas os revolucionários de outras tendências partem do mesmo pressuposto, julgando os tradicionalistas contrarrevolucionários um empecilho à transformação de mundo que pretendem realizar, por isso, devem ser eliminados (moral, intelectual ou fisicamente).

Erram também, de certa forma, os liberal-conservadores ao tentarem jogar os fascismos diversos na conta da esquerda, como se fossem irmãos heterozigotos do comunismo. Pode-se ter uma leitura de “convergência” entre ambas devido ao corporativismo de Estado e a chamada “democracia orgânica”, que difere da liberal. No entanto, devemos ter honestidade intelectual em reconhecer que não se pode comparar “animais” distintos.

Escrevo esta apresentação justamente no dia da celebração da Revolução dos Cravos, evento que é um divisor de águas de um passado que parece cada vez mais ser esquecido pela mídia e as novas gerações que não viveram o período. Colocando todos estes “ismos” em seus devidos lugares, aqui faço uma história dos movimentos nacionalistas para de uma vez por todas esclarecer suas aspirações em um mundo cético e pragmático do realpolitik onde parece não haver mais lugar às ideologias e utopias. 

 

O autor, 25 de abril, 2023.


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