terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Estranhamento - Vila Buarque, SP - Impressão feita em 29 de agosto, 2012




 Ao subir a rua General Jardim me deparo com pessoas de origens diversas, que se integram formando grupos, ora de categorias originais de formação dos mesmos (sejam estas territoriais, culturais ou sociais), ora em novas nomenclaturas que tanto podem ser passageiras, como se tornarem características atribuídas aos indivíduos pertencentes a cada categora. Um exemplo bem típico que pode ilustrar tal observação são os clubes esportivos da região, onde membros trajando os uniformes de times se reunem todos mediante afinidades daquelas instituições, são pessoas de diferentes classes sociais e etnias oriundas não somente de todo o territorio nacional, como do estrangeiro, que por conta do clube, nesses exatos happy hours possuem mais coisas em comum do que seus grupos originários.
Um migrante passa a estar na mesma linha comportamental de um imigrante libanês, quando o clube os une diante de alguma partida pelos bares da rua. Embora seus valores divergenciem por conta da religião e de alguns valores morais, ambos se identificam com essas instituições das quais escolheram por livre e espontânea vontade. Ao contrário dos demais paulistanos, que ao nascer e muito antes de aprender a andar, o sujeito já tem um clube, devido influência paterna, os que escolhem São Paulo para viver tem essa opção de também escolher a qual clube pertencer.
Outro ponto de relevância que pude notar, foram as construções, que estão diretamente relacionadas não somente à epoca em que foram elaboradas e realizadas, mas aos fatores culturais e sociais que implicam em todo um estilo de vida e conduta, que chega a ser reluzente, bem como as luzes de Higienópolis que se sobressaem diante do pacato Centro antigo.
O bairro Vila Buarque possui uma homogeneidade mais notável, comparado ao seu bairro vizinho, nele ainda resistem muitos dos antigos edifícios que em tempos de outrora foram curtiços de imigrantes, hoje, habitados por  famílias oriundas de outras partes do Brasil (sobretudo os estados do nordeste).  Devido tais fatores, por questões culturais nota-se o estilo mais “tropical” de ser, que acaba por se adequar em uma metrópole de características culturais européias mais fortes, como por exemplo, os bares e pequenos comércios da zona mais central, possuem menos controles tecnológicos nas padarias, muitas que não utilizam o sistema de comanda eletrônica e ainda oferecem a possibilidade de comprar fiado, o sentimento de comunidade é mais forte , por conta de terem suas ruas estreitas compostas por famílias que convivem lado a lado, não somente dividindo o espaço físico, mas que elegem suas próprias regras e comportamentos em paralelo ao estipulado por alguma constituição formal.
O bairro de Higienópolis, tradicionalmente de maioria hebraica, já possui uma estrutura distinta em muitos aspectos. Nota-se um individualismo mais presente, um poder aquisitivo maior dos residentes, que reflete nos próprios estabelecimentos, muitos com detectores e sem áreas para uma socialização mais aconchegante. São poucas as mesas na calçada e barracas de comércio ambulante, porém tem uma diversidade maior do que a Vila Buarque, em termos gastronômicos principalmente, com restaurantes típicos italianos, japoneses, espanhóis, churrascarias gaúchas, que levam em seus nomes muitas vezes o saudosismo daqueles que distantes de suas terras quiseram fazer homenagens, como no caso da Padaria Barcelona.
Foi notável o fator demográfico dos bairros, sendo a maioria dos moradores de Higienópolis pessoas da 3ª Idade e adultos jovens engravatados, contrastando com a quantidade considerável de crianças e adolescentes da parte central.
A arquitetura dos edifícios de Higienópolis remontam diferentes gerações, que teriam deixado suas marcas de uma forma sequencial, diferente do centro, pois lá nota-se uma torre da década de 60 sem sacadas nos apartamentos e sem portaria, ao lado de uma dos anos 80 com sacadas enórmes e portarias não blindadas, na frente de uma dos anos 90 com duas sacadas menores até os edifícios mais modernos com design futurista, mais altos, com portarias compostas de seguranças portando ternos que pedem o R.G para os visitantes.
Essas características refletem  diretamente no modo de viver das pessoas que em um quadro geral daquela imagem, divergem não somente suas origens étnicas, mas a maneira que conduzem a comunidade, de um lado a pluralidade de famílias oriundas de diversas nacionalidades vivendo em um estilo de vida mais reservado e individual, do outro uma comunidade mais sociável e homogênea, onde as duas acabam por se entrelaçar, tendo seus integrantes unidos pelo mesmo clube diante de uma transmissão de uma partida de futebol nos botequins. 

por: David Vega

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