Ao subir a rua General Jardim me deparo com
pessoas de origens diversas, que se integram formando grupos, ora de categorias
originais de formação dos mesmos (sejam estas territoriais, culturais ou
sociais), ora em novas nomenclaturas que tanto podem ser passageiras, como se
tornarem características atribuídas aos indivíduos pertencentes a cada
categora. Um exemplo bem típico que pode ilustrar tal observação são os clubes
esportivos da região, onde membros trajando os uniformes de times se reunem
todos mediante afinidades daquelas instituições, são pessoas de diferentes
classes sociais e etnias oriundas não somente de todo o territorio nacional,
como do estrangeiro, que por conta do clube, nesses exatos happy hours possuem mais coisas em comum do que seus grupos
originários.
Um migrante passa a estar na mesma linha
comportamental de um imigrante libanês, quando o clube os une diante de alguma
partida pelos bares da rua. Embora seus valores divergenciem por conta da
religião e de alguns valores morais, ambos se identificam com essas instituições das quais escolheram por
livre e espontânea vontade. Ao contrário dos demais paulistanos, que ao nascer
e muito antes de aprender a andar, o sujeito já tem um clube, devido influência
paterna, os que escolhem São Paulo para viver tem essa opção de também escolher
a qual clube pertencer.
Outro ponto de relevância que pude notar, foram as
construções, que estão diretamente relacionadas não somente à epoca em que
foram elaboradas e realizadas, mas aos fatores culturais e sociais que implicam
em todo um estilo de vida e conduta, que chega a ser reluzente, bem como as
luzes de Higienópolis que se sobressaem diante do pacato Centro antigo.
O bairro Vila Buarque possui uma homogeneidade
mais notável, comparado ao seu bairro vizinho, nele ainda resistem muitos dos
antigos edifícios que em tempos de outrora foram curtiços de imigrantes, hoje,
habitados por famílias oriundas de
outras partes do Brasil (sobretudo os estados do nordeste). Devido tais fatores, por questões culturais
nota-se o estilo mais “tropical” de ser, que acaba por se adequar em uma
metrópole de características culturais européias mais fortes, como por exemplo,
os bares e pequenos comércios da zona mais central, possuem menos controles
tecnológicos nas padarias, muitas que não utilizam o sistema de comanda eletrônica
e ainda oferecem a possibilidade de comprar fiado, o sentimento de comunidade é
mais forte , por conta de terem suas ruas estreitas compostas por famílias que
convivem lado a lado, não somente dividindo o espaço físico, mas que elegem
suas próprias regras e comportamentos em paralelo ao estipulado por alguma
constituição formal.
O bairro de Higienópolis, tradicionalmente de
maioria hebraica, já possui uma estrutura distinta em muitos aspectos. Nota-se
um individualismo mais presente, um poder aquisitivo maior dos residentes, que
reflete nos próprios estabelecimentos, muitos com detectores e sem áreas para
uma socialização mais aconchegante. São poucas as mesas na calçada e barracas
de comércio ambulante, porém tem uma diversidade maior do que a Vila Buarque,
em termos gastronômicos principalmente, com restaurantes típicos italianos,
japoneses, espanhóis, churrascarias gaúchas, que levam em seus nomes muitas
vezes o saudosismo daqueles que distantes de suas terras quiseram fazer
homenagens, como no caso da Padaria Barcelona.
Foi notável o fator demográfico dos bairros, sendo
a maioria dos moradores de Higienópolis pessoas da 3ª Idade e adultos jovens
engravatados, contrastando com a quantidade considerável de crianças e
adolescentes da parte central.
A arquitetura dos edifícios de Higienópolis
remontam diferentes gerações, que teriam deixado suas marcas de uma forma
sequencial, diferente do centro, pois lá nota-se uma torre da década de 60 sem
sacadas nos apartamentos e sem portaria, ao lado de uma dos anos 80 com sacadas
enórmes e portarias não blindadas, na frente de uma dos anos 90 com duas
sacadas menores até os edifícios mais modernos com design futurista, mais altos, com portarias compostas de seguranças
portando ternos que pedem o R.G para os visitantes.
Essas características refletem diretamente no modo de viver das pessoas que
em um quadro geral daquela imagem, divergem não somente suas origens étnicas,
mas a maneira que conduzem a comunidade, de um lado a pluralidade de famílias
oriundas de diversas nacionalidades vivendo em um estilo de vida mais reservado
e individual, do outro uma comunidade mais sociável e homogênea, onde as duas
acabam por se entrelaçar, tendo seus integrantes unidos pelo mesmo clube diante
de uma transmissão de uma partida de futebol nos botequins.
por: David Vega
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