A imagem fotográfica não é nunca a mera reprodução do real que a ingenuidade do senso comum lhe atribui. Entre o olho e a cena, a objetiva e a coisa, a sombra e a luz, se estabelecem sinuosas mediações, que, freqüentemente, desnudam modos estereotipados de perceber o mundo. Estranhar o comum, o costumeiro, o banal, esse é o convite que nos faz (ou pelo menos deveria fazer) a pesquisa etnográfica no campo da Antropologia Cultural, ao lançarem um olhar ao mesmo tempo amoroso e lírico sobre espaços, prédios e objetos que povoam o cotidiano de nossas vidas e que, através de suas lentes, se abrem a insuspeitadas leituras.
Fazer uma observação antropológica com um olhar familiarizado com as coisas não te permite enxergar uma série de dados e fenômenos. É como olhar para o seu quarto ou a sala da sua casa com o mesmo olhar rotineiro - você não enxerga nada além do habitual, nem se dá conta que as coisas estão lá.
Mas se você "estranha", passa a ver outras coisas de outro modo. A partir daí, começamos a pensar as coisas não como fatos dados, mas como construções humanas que poderiam ser de outro jeito, mas que têm constituintes que as fazem ser desse jeito que são;
O estranhamento é maior se você entra numa sala ou quarto (ou qualquer ambiente) em que nunca esteve: passa a notar direto todos os detalhes. Isso, claro, se o seu olhar estiver disposto a "estranhar".
por Marcos Fernandes, Universidade Federal do Rio de Janeiro - (UFRJ)
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