Por: David Vega
Após
a Primeira Guerra Mundial (conflito conhecido como “a guerra para acabar com
todas as guerras”) o mundo pensou que a paz seria eterna assegurada pela fraca
Liga das Nações, o projeto dos 14 pontos de Woodrow Wilson foi substituído
pelas imposições vingativas de Versalhes, então, um novo conflito surgiu
iniciado por parte daqueles que se sentiram injustiçados; a Alemanha perdeu
todas as suas colônias na África e praticamente a proibiram de ter um exército.
O restante todos já sabem, é na crise que o discurso convincente do populismo
contagia inclusive as classes mais esclarecidas, o apoio ao nazismo foi desde o
operário nacionalista que pensava seu país estar naquela situação por conta de
uma elite sionista mundial materializada através dos bancos, ao burguês que via
seu patrimônio ser ameaçado pelo comunismo. Após o segundo conflito mundial, os
Aliados ocidentais pensaram em uma estratégia para evitar um novo conflito com
base em revanchismos, o Plano Marshall injetou dinheiro para a reconstrução dos
países e a social democracia que garantia direitos barrou o avanço do comunismo
na Europa ocidental após 1947 com o início da Guerra Fria. A ONU foi criada
para assegurar uma paz segundo os ideais cooperativistas kantianos, até que
durou relativamente, embora historiadores como Moniz Bandeira já vinham
identificando sua crise há 20 anos. Hoje a ONU não passa de uma sequoia caída
igual àquelas do bosque atrás de sua sede em Nova Iorque. O tempo de paz
mundial acabou, surge a nova crise, mas as guerras (assim espero) de hoje não
são decididas em trincheiras, há uma tentativa de deixar o inimigo sem
internet, cortar o seu acesso ao mundo virtual informatizado. Imagina um país
ficar sem internet por algumas horas hoje? O cidadão sabe seu saldo bancário
pelo aplicativo, a iluminação pública, os dutos e travas de água de Itaipú, a
rede de esgoto, as informações do governo nas três esferas e os radares, enfim,
tudo é feito pela internet. As lavas do vulcão de Tonga queimaram os cabos
marítimos que conectam o país com o restante do mundo e disseram que a
reparação levaria duas semanas, no terceiro dia o país já estava imerso no
caos. O Brasil devido suas terras agricultáveis e quantidade de água doce se
torna um terreno primordial. A ideia de “uma só humanidade” do mundo global
acabou. Os EUA estão em crise devido suas montadoras estarem na China e no
sudeste asiático, devido a conflitos de interesses estão sem abastecimento, os
chineses não estão permitindo os navios saírem do porto para abastecer a
potência ocidental rival. A situação na Ucrânia está tensa, e nós fazemos parte
do conselho de segurança da ONU como membro não permanente, estão cobrando um
posicionamento do Brasil.
Carl
Schmitt volta a fazer sentido hoje, pois o viés do conflito não só no Direito,
mas nas relações volta ser o que impera (ou nunca deixou de ser), isso tudo vem
a mostrar que embora seja muito belo ler as ideias quase que utópicas de uma
humanidade unida e vivendo em paz, nada mais fazem do que deixar o indivíduo
alheio à realidade; é o realpolitik que impera no mundo, Hobbes tem mais razão
do que Rousseau, quer gostemos ou não. Nós fazemos parte de uma geração mimada,
que nunca viveu uma crise de fato, ao ponto de deixar-nos arrogantes e
pretenciosos em achar que uma paz, uma estabilidade ou um mundo igual à
propaganda de margarina na TV iria durar para sempre. A História já mostrou que
não é bem assim, veja, durante a Era Vitoriana o mundo achava que teria uma paz
perpétua, quando o novo século chegou, em 1900, ou 1901 mais precisamente, o
mundo fez uma enorme celebração, seria o século em que as maldades e violências
estariam superadas pela tecnologia, esta, que deixaria o homem dominar por
completo a natureza e anularia o conflito. Pois bem, o século XX foi o mais
sangrento que a humanidade já viu, justamente pelas guerras em que a tecnologia
avançada produziu as chacinas e massacres jamais vistos antes!
O
ser humano é beligerante em sua gênese, feito um grupo de chimpanzés que é hostil ao representante do grupo rival quando adentra seu território na
savana. A única diferença é que o comércio substituiu a guerra em partes e a
competição entre Estados se dá de uma forma diferente atualmente, uma espécie
de extensão da guerra por outros meios, igual na política, como afirmava
Clausewitz. Não sei o que será ou como será o próximo conflito, mas que hoje,
uma pessoa que tem um pedacinho de chão para plantar, uma criação de galinha no
quintal é mais rica do que qualquer outro cidadão que depende de tudo do
mercado é inegável, pois ser autossuficiente o máximo que se pode, no tocante à
produção de sua própria comida, é o que poderá salvar-nos se o caldo entornar. Meu
abuelo falava que durante a Guerra Civil Espanhola a população de Madrid e das
grandes cidades foram as que mais passaram fome, pois no campo, ao menos, ainda
tinha como se virar e plantar algo. Fuja para as montanhas, isso enquanto o
Estado não confiscar suas terras quando uma crise real acontecer!
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