quarta-feira, 20 de abril de 2022

Da Revolução de Gutemberg aos Algoritmos

Por: David Vega



O ser humano já surge como um ser social, é preciso a relação com o outro para que nós possamos construir o nosso “eu”. Se antes a linguagem se dava, esta, diga-se de passagem, não apenas a fala, mas a corporal e demais que possibilitam a comunicação, se dava pela via oral e visual, com o advindo da escrita, fato que marca o início da nossa História, dividindo a Pré-História da Antiguidade, a criação de anagramas, runas e alfabetos diversos foi o tiro inicial para uma revolução na humanidade da qual ainda continua avançando, feito uma flecha atirada ao infinito e de trajetória constante, hoje ela ocorre em outras frentes também.

Os escribas antigos eram considerados sagrados, por muito tempo saber ler e escrever era sinal de distinção, como todo saber ou conhecimento, trazia poder, status e privilégio. Depois, já na Idade Moderna, a reforma protestante foi responsável pelo avanço da alfabetização de boa parte do globo terrestre. A partir de então, podemos falar no surgimento da imprensa, com a revolução da prensa de Gutemberg, que possibilitou a impressão de grandes tiragens e cópias de livros e panfletos. Tal acontecimento, fez surgir as narrativas históricas dos povos, forjou documentos à burocracia, tão necessária à organização de um Estado, e também ao registro científico ou até o religioso, que se mantém até hoje para o conhecimento popular através de edições e mais edições e tiragens republicadas a cada geração.

Os números são infinitos, e seria impossível através da contagem, ou de um controle artificial, controlar a sua progressão. Ora, nosso alfabeto fonético latino, pode fazer combinações de letras e símbolos e seguir também nessa vastidão sem fim formando frases, parágrafos e o que mais se fala nos dias de hoje: códigos (ou o que chamam de algoritmos).

Quando se inventou o computador, a linguagem na forma de escrita passou a combinar símbolos e operar sistemas dentro de uma tela. Depois da internet, esses códigos, incontroláveis feito uma progressão aritmética, reconhecem toda citação onde a palavra foi escrita, ou as palavras relacionadas ao que o digitador inseriu, e dão como resultado de busca tudo aquilo que faz parte do tema pesquisado. Não mais precisamos das citações acadêmicas atrás dos livros ou do catálogo de uma biblioteca, embora eu ainda seja à moda antiga para essas coisas. O algoritmo então passa a ser algo fora de nosso alcance. Alguns mais crentes em distopias afirmam que poderemos ser escravos dessas combinações uma vez que a tecnologia avançando, talvez poderíamos ligar nossos cérebros à realidade virtual. O projeto audaz do metaverso poderá trazer uma realidade paralela sem mais precisarmos de um portal ou buraco negro à outra dimensão. Será que abandonaríamos nossa humanidade para vivermos presos ao virtual, explorando um universo infinito com um Google Glass em nossos olhos sem jamais sairmos dos quartos de nossos apartamentos? A desumanização da arte começou desde que o intento de reverenciar deuses foi substituído pela destruição dadaísta, bem como a fotografia substituiu a perfeição clássica da Renascença. Chegamos atualmente à remoção da humanidade em nós mesmos, claro que a tecnologia tornou nossas vidas mais fáceis, mas se a desmedida é a medida do homem, exageramos ao ponto de algoritmos ou informações e privacidade se tornarem mais valiosas entre a disputa de governos e Estados do que a força das armas, é um novo tipo de dominação, que se não usada sabiamente, poderá trazer consequências danosas através da megalomania de déspotas.

As próximas gerações que já nascem imbricadas com a realidade virtual devem ter uma educação que lhes ensinem a também lidar com o mundo concreto. Igual quando a professora fazia a gente plantar um feijãozinho no primário e acompanhávamos o crescimento da planta. Pois o mundo real pode ser encantador e cheio de oportunidades como aquele da abstração também, isso sem deixarmos nossa mínima condição animalesca também, pois queiramos ou não, ainda somos muito mais símios do que gostaríamos.

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