quinta-feira, 14 de abril de 2022

Por uma nacionalidade centralizadora resultante dos municipalismos

Por: David Vega.


O Brasil é um país continental e de culturas muito peculiares em cada região, embora tenhamos uma unicidade. Muito se fala da Revolução Farroupilha do Rio Grande do Sul, que se insurgiu contra o Império Brasileiro (1822-1889), mas você sabia que o nordeste também teve a sua insurreição? É muito importante entender das diferentes regiões do Brasil, pois as suas singularidades compõem frações de uma cultura nacional, que apesar de múltipla, tem uma simbiose. O gaúcho, o caipira, o caboclo, o sertanejo, o tropeiro, o pantaneiro ou qualquer outra manifestação típica de uma espécie de gentílico, ou melhor, definição de povo de alguma região, foi alterada com a introdução de estrangeirismos. O caipira paulista herdou muito do carcamano italiano, do sírio libanês e do nipônico, bem como o gaúcho germanizou-se e o nordestino tem algo do neerlandês e do batavo. Porém o cerne de cada cultura regional conservou um embrião que faz o território vasto que os bandeirantes e retirantes nômades povoaram um país mais em comum do que imaginamos.

Pouco antes da independência do Brasil (em 7 de setembro de 1822), vários movimentos republicanos, inspirados pela república francesa pós revolução, pipocaram por todo o país. Em Pernambuco houve em 1817 um levante, mas foi suprido pelo império e algumas figuras importantes foram perdoadas. Uma figura expoente do movimento pernambucano era Frei Caneca (executado depois), imaginavam um país republicano que englobaria além de Pernambuco, o Piauí, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Ceará e a antiga Comarca do Rio São Francisco, que hoje pertence ao oeste baiano e partes de Goiás. O nome da região seria a Confederação do Equador.

Os revoltosos criticavam José Bonifácio, o patrono da independência, mas aceitaram a monarquia na esperança de uma autonomia regional. Quando a revolta se instaurou, o império brasileiro teve que pedir ajuda ao exército britânico, sob o comando de Thomas Cochrane, que conteve a rebelião. Muito se fala dos estados do sul confederados norte-americanos, mas o nordeste já lutou por sua autonomia e contribuiu para o movimento republicano brasileiro, que depois viria a ter mais presença em São Paulo, mas isso só no final do século XIX.

As diversas tentativas de secessão em nosso território trouxeram um carinho para com o regionalista e seu bairrismo, mas sem nunca abalar o sentimento nacional. No meu caso mesmo, sou filho de imigrante espanhol por parte de pai, e de avó caipira e avô sertanejo por parte materna, este último que veio à Paulistânia e aqui se fixou. São Paulo tem a sua cultura própria, que é a resultante da expressão nacional e mundial. É perfeitamente possível celebrar 1932 (e eu sei que é errado atribuir separatismo ao movimento) bem como os restantes eventos do Brasil.

Bento Gonçalves e Garibaldi não são só heróis sulistas, é perfeitamente recomendado que sejam estudados e reverenciados em outras regiões, bem como os Malês da Bahia, a Cabanagem, a Sabinada, Balaiada, a Revolta dos Alfaiates etc. Acima de tudo, republicanos ou não, devemos reconhecer o nosso passado imperial. Não na tentativa de se copiar modelos antigos restritos ao tempo, mas reinventarmos um Brasil com as características municipalistas que irão compor um todo ligado a uma centralidade que nacionaliza a nós todos.

O marechal Cândido Rondon forjou o centro-oeste e o norte, vencemos a batalha contra os bolivianos e hoje o Acre é também Brasil! Graças ao célebre Rio Branco e suas habilidades diplomáticas. Do Oiapoque ao Chuí, somos um só povo. E a competição de narrativas, se o país começou com a chegada de Cabral a Porto Seguro, ou após a Batalha de Guararapes, ou com a independência de 1822, não leva a lugar algum. São todas estas juntas!

Somos a matriz Jê, ou o tronco Tupi, os Kalapalos ou Charruas, somos os Iorubás, os Bantos e sudaneses, todos unidos baixo a portugalidade e a hispanidade! As culturas são tão autênticas, que faz do nosso país uma unidade na diversidade!

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