Há um grande ausente nessa crise
vigente que assola o mundo, alguém a quem muitos esperam muito, mas não
faz nada e nem aparece para dar um parecer: DEUS.
Pergunto-me como é possível que o ser Todo Poderoso permaneça passivo
frente à desgraça de tanto milhões de pessoas que perderam seus
trabalhos e que se vem atoladas em uma situação de esmola e desespero.
“Eu sou o que era, o que é e o que há de vir”,
disse Yhavé no Apocalipse. De seu poder e milagres nos tempos antigos
da fé da bíblia, mas ha séculos o Supremo Criador guarda silêncio. Não
disse nenhuma palavra sobre as atrocidades que vimos ao longo do século
XX, nem sobre as conseqüências dessa crise atual. QUANDO VOCÊ SE OMITE, TAMBÉM É RESPONSÁVEL.
Aí está o sofrimento dos enfermos
terminais, de quem perdeu a batalha contra o câncer, dos que sobrevivem
graças aos meios artificiais. Suas dores resultam também em um
testemunho que se aproxima mais da veracidade em relação aos que invocam
a ciência frente aos que invocam a teologia escolástica para demonstrar
a existência de um suposto Deus.
E falando “Nele”, se pegarmos a fundo
a história antropológica do homem ocidental, veremos que tudo isso é
uma mescla de diversas crenças já existentes desde o politeísmo e
paganismo grego, romano, celta, germânico e sei lá mais o que, adaptada
aos princípios cristãos para assim facilitar a dominação dos camponeses
pagãos que se submetiam à opressão do império romano de Constantino. O
nosso Natal tem origens pagãs, muitos dos santos têm sua mesma
representação celta (sim, celta, de “pecadores” bruxos druídas que
mexiam caldeirões e faziam magia contida em livros, atitude hoje
condenada pelos soldados de Cristo), sem contar a semelhança da história
de Jesus com a de Hércules ou com a de Thor; uma humana engravidar de
um deus, a Virgem Maria não tem diferença para qualquer outra mulher
geradora de “semi-deuses” de qualquer outra religião pagã.
Os apóstolos cristãos se aproveitavam
das brechas das outras religiões e as distorciam propositadamente para
incluir aquele povo sob dominação nos parâmetros da nova religião
emergente, vinda do estrangeiro, de uma província distante no Oriente
Médio que em nada tinha a ver com a cultura que reinava na Europa.
Exemplo: O próprio termo “Cristo”, incorporado ao nome de Jesus de Nazaré, é de origem grega e significa “unido”.
A difusão do cristianismo trouxe, como
era de se esperar, um confronto incessante entre a fé e a razão. O
apóstolo Paulo foi o primeiro a enfrentar essa questão. Habilitado para
tal função, apesar de judeu era cidadão romano e educou-se numa
sociedade helenística. Como narra o livro Atos, do Novo Testamento:
“Atenienses, tudo indica que sois de uma religiosidade sem igual (…)
Encontrei inclusive um altar com a inscrição: Ao Deus desconhecido. Pois
bem, justamente aqui estou para vos comunicar que este Deus que adorais
sem conhecer, é o mesmo que fez o mundo e tudo que nele existe (…)”.
É triste ver hoje, para nós
estudiosos, o quanto foi pisoteada a filosofia grega, a democracia
ateniense, o militarismo e romantismo exacerbado dos espartanos, a
conduta de bravura germânica, a liberdade e igualdade entre homens e
mulheres celtas, após a imposição dessa religião que nada mais faz do
que tornar-nos acomodados e sem perspectiva nenhuma na vida, aceitar uma
condição de miséria e oração a um ser que nos colocou nesse infortúnio.
Não, sinto muito, mas deus não pode
existir em um mundo onde estamos indefesos ante um mal que nos cerca e
joga seus dados contra nós. A única prova consistente de mantermos a
esperança no sobrenatural são as misérias e injustiças que reinam no
nosso planeta.
Muitos filósofos acreditaram no
progresso da razão e da moral ética, uma fé que resulta patética à luz
das suas contradições de um sistema incapaz de dar um mínimo sentido à
vida humana. Racionalmente falando, eu acho que Deus deve ser
esquizofrênico, pois tem que atender todos os dias aos pedidos de 6
bilhões de macacos.
Depositamos nossas esperanças em Deus,
mas este continua guardando um silêncio que está ao ponto de fazer
estourar nossos ouvidos. Ou o Todo Poderoso é uma ficção, ou está tão
cansado de nós, que não nos escuta. Nosso pecado original é a eleger
como única verdade a mais absoluta incerteza, e abandonar a única
certeza de nosso presente e nosso esforço atual para construir um futuro
melhor.
Que juízo final é esse que tanto
tememos? Que nos punem de viver. Ninguém jamais poderá ser julgado de
ser feliz! Até quando iremos continuar sobrepondo a fé da realidade?
A terra tem aproximadamente 100
bilhões de anos, o homo sapiens existe ha uns 100 milhões, as religiões
num geral, não passam de alguns milênios, então, como podemos nós,
cristãos, sermos os únicos donos da verdade se nossa crença tem apenas
2000 anos?
Ao redor do globo, pela História,
vemos a hipocrisia daqueles que matam em nome de seus criadores, sejam
eles de qualquer cultura ou povo. Os bispos na América Latina apoiaram
sangrentas ditaduras militares, na Europa, os santificados se aliaram ao
nazi-fascismo, na URSS, cristãos ortodoxos pisotearam o que vinham
condenando há décadas anteriores e se aliaram aos inquisidores de Stálin
que executaram mais de 50 milhões de vidas humanas, em Israel, os
filhos de Sião ferem a suposta bondade de Yahvé e fazem reinar os
maléficos planos de Azazel, quando demonstram sua eterna ganância pelo
ouro, ou imposição à força nos territórios da faixa de Gaza através da
explosão de algum míssel tele-guiado, na Palestina, o alcorão foi
trocado pela cimitarra e pelo sangue, pelo apedrejamento de suas belas
mulheres e execução de milhares de vidas inocentes, quando enviam suas
crianças ao front, repletas de bombas presas ao corpo, na Ásia, o
ensinamento de Sidarta Buda foi descartado e hoje a meditação de seus
filhos se dá através das rajadas de AK 47 pelas montanhas do Tibete até
as portas da China e do Nepal, toda sabedoria de seus líderes
espirituais hoje repousa nos laboratórios de urânio da Coréia do Norte,
da Rússia, da Índia e dos EUA, cheios de gigantes projéteis compostos de
átomos esperando aniquilar toda existência da terra.
Pelas ruas das periferias da America
do Sul e da África, uma legião de vigaristas de terno e gravata pregam
as sábias e belas palavras do filho do criador que veio nos salvar do
materialismo, da arrogância, da eterna estupidez humana. Estes políticos
e mentirosos falsos bispos atrofiam o cérebro dos fracos e acabam
acreditando em suas malvadas palavras mascaradas de amor e bondade,
palavras estas que lhes tiram o humilde dinheirinho suado que seria para
por o alimento na mesa.
Constroem-se canais de TV, templos
banhados a ouro, dízimos parcelados no cartão de crédito ou de débito,
máfias que se escondem por detrás de políticos corruptos que desviam o
dinheiro da educação e da saúde, que oram para o Todo Poderoso antes de
meter a mão naquele capital que seria para comprar um novo aparelho
médico de alguma UTI dos hospitais públicos, que possivelmente salvaria
mais uma vida, ou para remunerar descentemente um professor, que
salvaria a vida de mais um traficante de drogas executado pela policia
no futuro.
Relata o evangelista Mateus:
indagaram de Jesus quem haveria de se salvar. Para surpresa dos que o
interrogaram, ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no
peito e proclamando o nome de Deus. Nem disse que seriam aqueles que vão
à missa ou ao culto todos os domingos. Nem disse que seriam aqueles que
se julgam donos da doutrina cristã e se arvoram em juízes de seus
semelhantes.
Livre-se da maneira que o homem
enxerga a Deus, e acredite no seu instinto, combata o radicalismo da
moral de Sócrates e epicuristas, procure crer na natureza, na sua índole
verdadeira. Não condene o próximo por este não estar “salvo” e não crer
na mesma visão de mundo que tens. Não rotule seu modo interpretar essa
maravilha que nos foi presenteada, que enxergamos ao abrir os olhos,
sentimos ao inspirar uma flor e degustamos ao saborear um alimento.
Texto de “O Quarto Ponteiro”, David Vega (2011)
(...) Fazer uma observação antropológica com um olhar familiarizado com as coisas não te permite enxergar uma série de dados e fenômenos. É como olhar para o seu quarto ou a sala da sua casa com o mesmo olhar rotineiro - você não enxerga nada além do habitual, nem se dá conta que as coisas estão lá. (...) - parte de um texto do próprio David Vega.
ResponderExcluirObrigado pelo reconhecimento Leandro. Grande abraço! David
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