terça-feira, 26 de março de 2013

A triste rejeição e ausência de nosso Pai


Há um grande ausente nessa crise vigente que assola o mundo, alguém a quem muitos esperam muito, mas não faz nada e nem aparece para dar um parecer: DEUS. Pergunto-me como é possível que o ser Todo Poderoso permaneça passivo frente à desgraça de tanto milhões de pessoas que perderam seus trabalhos e que se vem atoladas em uma situação de esmola e desespero.
“Eu sou o que era, o que é e o que há de vir”, disse Yhavé no Apocalipse. De seu poder e milagres nos tempos antigos da fé da bíblia, mas ha séculos o Supremo Criador guarda silêncio. Não disse nenhuma palavra sobre as atrocidades que vimos ao longo do século XX, nem sobre as conseqüências dessa crise atual. QUANDO VOCÊ SE OMITE, TAMBÉM É RESPONSÁVEL.
Aí está o sofrimento dos enfermos terminais, de quem perdeu a batalha contra o câncer, dos que sobrevivem graças aos meios artificiais. Suas dores resultam também em um testemunho que se aproxima mais da veracidade em relação aos que invocam a ciência frente aos que invocam a teologia escolástica para demonstrar a existência de um suposto Deus.
 E falando “Nele”, se pegarmos a fundo a história antropológica do homem ocidental, veremos que tudo isso é uma mescla de diversas crenças já existentes desde o politeísmo e paganismo grego, romano, celta, germânico e sei lá mais o que, adaptada aos princípios cristãos para assim facilitar a dominação dos camponeses pagãos que se submetiam à opressão do império romano de Constantino. O nosso Natal tem origens pagãs, muitos dos santos têm sua mesma representação celta (sim, celta, de “pecadores” bruxos druídas que mexiam caldeirões e faziam magia contida em livros, atitude hoje condenada pelos soldados de Cristo), sem contar a semelhança da história de Jesus com a de Hércules ou com a de Thor; uma humana engravidar de um deus, a Virgem Maria não tem diferença para qualquer outra mulher geradora de “semi-deuses” de qualquer outra religião pagã.
 Os apóstolos cristãos se aproveitavam das brechas das outras religiões e as distorciam propositadamente para incluir aquele povo sob dominação nos parâmetros da nova religião emergente, vinda do estrangeiro, de uma província distante no Oriente Médio que em nada tinha a ver com a cultura que reinava na Europa.
Exemplo: O próprio termo “Cristo”, incorporado ao nome de Jesus de Nazaré, é de origem grega e significa “unido”.
A difusão do cristianismo trouxe, como era de se esperar, um confronto incessante entre a fé e a razão. O apóstolo Paulo foi o primeiro a enfrentar essa questão. Habilitado para tal função, apesar de judeu era cidadão romano e educou-se numa sociedade helenística. Como narra o livro Atos, do Novo Testamento: “Atenienses, tudo indica que sois de uma religiosidade sem igual (…) Encontrei inclusive um altar com a inscrição: Ao Deus desconhecido. Pois bem, justamente aqui estou para vos comunicar que este Deus que adorais sem conhecer, é o mesmo que fez o mundo e tudo que nele existe (…)”.
 É triste ver hoje, para nós estudiosos, o quanto foi pisoteada a filosofia grega, a democracia ateniense, o militarismo e romantismo exacerbado dos espartanos, a conduta de bravura germânica, a liberdade e igualdade entre homens e mulheres celtas, após a imposição dessa religião que nada mais faz do que tornar-nos acomodados e sem perspectiva nenhuma na vida, aceitar uma condição de miséria e oração a um ser que nos colocou nesse infortúnio.
 Não, sinto muito, mas deus não pode existir em um mundo onde estamos indefesos ante um mal que nos cerca e joga seus dados contra nós. A única prova consistente de mantermos a esperança no sobrenatural são as misérias e injustiças que reinam no nosso planeta.
Muitos filósofos acreditaram no progresso da razão e da moral ética, uma fé que resulta patética à luz das suas contradições de um sistema incapaz de dar um mínimo sentido à vida humana. Racionalmente falando, eu acho que Deus deve ser esquizofrênico, pois tem que atender todos os dias aos pedidos de 6 bilhões de macacos.
Depositamos nossas esperanças em Deus, mas este continua guardando um silêncio que está ao ponto de fazer estourar nossos ouvidos. Ou o Todo Poderoso é uma ficção, ou está tão cansado de nós, que não nos escuta. Nosso pecado original é a eleger como única verdade a mais absoluta incerteza, e abandonar a única certeza de nosso presente e nosso esforço atual para construir um futuro melhor.
 Que juízo final é esse que tanto tememos? Que nos punem de viver. Ninguém jamais poderá ser julgado de ser feliz! Até quando iremos continuar sobrepondo a fé da realidade?
 A terra tem aproximadamente 100 bilhões de anos, o homo sapiens existe ha uns 100 milhões, as religiões num geral, não passam de alguns milênios, então, como podemos nós, cristãos, sermos os únicos donos da verdade se nossa crença tem apenas 2000 anos?
 Ao redor do globo, pela História, vemos a hipocrisia daqueles que matam em nome de seus criadores, sejam eles de qualquer cultura ou povo. Os bispos na América Latina apoiaram sangrentas ditaduras militares, na Europa, os santificados se aliaram ao nazi-fascismo, na URSS, cristãos ortodoxos pisotearam o que vinham condenando há décadas anteriores e se aliaram aos inquisidores de Stálin que executaram mais de 50 milhões de vidas humanas, em Israel, os filhos de Sião ferem a suposta bondade de Yahvé e fazem reinar os maléficos planos de Azazel, quando demonstram sua eterna ganância pelo ouro, ou imposição à força nos territórios da faixa de Gaza através da explosão de algum míssel tele-guiado, na Palestina, o alcorão foi trocado pela cimitarra e pelo sangue, pelo apedrejamento de suas belas mulheres e execução de milhares de vidas inocentes, quando enviam suas crianças ao front, repletas de bombas presas ao corpo, na Ásia, o ensinamento de Sidarta Buda foi descartado e hoje a meditação de seus filhos se dá através das rajadas de AK 47 pelas montanhas do Tibete até as portas da China e do Nepal, toda sabedoria de seus líderes espirituais hoje repousa nos laboratórios de urânio da Coréia do Norte, da Rússia, da Índia e dos EUA, cheios de gigantes projéteis compostos de átomos esperando aniquilar toda existência da terra.
 Pelas ruas das periferias da America do Sul e da África, uma legião de vigaristas de terno e gravata pregam as sábias e belas palavras do filho do criador que veio nos salvar do materialismo, da arrogância, da eterna estupidez humana. Estes políticos e mentirosos falsos bispos atrofiam o cérebro dos fracos e acabam acreditando em suas malvadas palavras mascaradas de amor e bondade, palavras estas que lhes tiram o humilde dinheirinho suado que seria para por o alimento na mesa.
 Constroem-se canais de TV, templos banhados a ouro, dízimos parcelados no cartão de crédito ou de débito, máfias que se escondem por detrás de políticos corruptos que desviam o dinheiro da educação e da saúde, que oram para o Todo Poderoso antes de meter a mão naquele capital que seria para comprar um novo aparelho médico de alguma UTI dos hospitais públicos, que possivelmente salvaria mais uma vida, ou para remunerar descentemente um professor, que salvaria a vida de mais um traficante de drogas executado pela policia no futuro.
 Relata o evangelista Mateus: indagaram de Jesus quem haveria de se salvar. Para surpresa dos que o interrogaram, ele não respondeu que seriam aqueles que vivem batendo no peito e proclamando o nome de Deus. Nem disse que seriam aqueles que vão à missa ou ao culto todos os domingos. Nem disse que seriam aqueles que se julgam donos da doutrina cristã e se arvoram em juízes de seus semelhantes.
 Livre-se da maneira que o homem enxerga a Deus, e acredite no seu instinto, combata o radicalismo da moral de Sócrates e epicuristas, procure crer na natureza, na sua índole verdadeira. Não condene o próximo por este não estar “salvo” e não crer na mesma visão de mundo que tens. Não rotule seu modo interpretar essa maravilha que nos foi presenteada, que enxergamos ao abrir os olhos, sentimos ao inspirar uma flor e degustamos ao saborear um alimento.
 
Texto de “O Quarto Ponteiro”, David Vega (2011)


 

2 comentários:

  1. (...) Fazer uma observação antropológica com um olhar familiarizado com as coisas não te permite enxergar uma série de dados e fenômenos. É como olhar para o seu quarto ou a sala da sua casa com o mesmo olhar rotineiro - você não enxerga nada além do habitual, nem se dá conta que as coisas estão lá. (...) - parte de um texto do próprio David Vega.

    ResponderExcluir
  2. Obrigado pelo reconhecimento Leandro. Grande abraço! David

    ResponderExcluir